terça-feira, março 22, 2005

sadness called me...

...back to the dashboard.

Já não te visitava desde o meu dia de anos. desde o dia em que fiz 33 anos. a data foi tão memorável que foi a primeira vez na vida que não tive um bolo nem velas para soprar. não vou poder guardar as velas dos 33 anos porque simplesmente não existiram.

Não sei que mais pode melhor traduzir o turbilhão louco por que passa a vida que passa por mim. porque ela passa... tanto que me oferecem e eu sem capacidade nenhuma para receber em condições. apetece-me invocar o lugar comum que diz qualquer coisa como: "... se andasse à procura, não encontraria..."

lembro-me frequentemente do que tenho sentido, de dia e de noite e não me sinto feliz com isso. À tentação de seguir para o outro lado do nevoeiro, sobrepõe-se o peso da angústia a quem assalta a dúvida. reasonable doubt, como dizem os americanos nos filmes.

amanhã saio de viagem. não vou para longe mas também não é nada perto na medida em que fico afastado. a distância é curta, são duas horas e meia... de violinos loucos a rouperem, mais uma vez os tímpanos aos sacrificados vizinhos que tenho no prédio. sempre que estou triste assalta-me também a tentação de acompanhar esta música. nunca mais a vou ser capaz de ouvir sem fazer um esforço para não chorar.

choro de cada vez que a ouço... que a ouço...

choro de cada vez que a sinto... e me lembro dela como se a ouvisse...

choro sozinho trancado nas casas de banho dos sítios mais parvos de que há memória: desde os cinemas, às tascas, aos restaurantes, ultimamente quase tudo me faz lembrá-la e assomam-me as lágrimas, ao mesmo tempo que se torce a traqueia naquele truque prodigioso que os meus avós chamaram de "nó na alma" e eu aprendi. achei piada, dizerem na alma, quando o que sinto são as cordas vocais a romper os limites físicos e mecânicos que impedem a voz de sair sem ser em espasmos guturais... não, também não é tanto assim. mentira, não é tanto assim porque fujo para as casas de banho. contemplo os azulejos e os autoclismos, à espera que sejam despejados os lamentos de que até eu me envergonho. de esquizofrénicos, todos temos um pouco e eu sinto-o de todas as vezes que saio da casa de banho como se apenas tivesse ido lavar as mãos após uma qualquer refeição frugal... qual frugal... gaita...


feitas as contas, it doesn't get any better e a música persegue-me por todos os sítios em que me enfio para esconder a minha sombra do sol do dia. talvez por isso prefiro a noite. talvez por isso prefiro estar tanto tempo sozinho. ao menos assim, não me assalta o nó da alma. sábios avós.

as encruzilhadas existem quase para provocar quem as afronta, como quem diz: "anda cá, se queres ver, que o tio não aleija". As cabras... e os violinos. Eu sei que não são coisas novas mas quando tenho motivos para estar contente, celebro com as pessoas, e guardo para as palavras e as letras o privilégio da minha tristeza. sempre gostava de saber onde isto vai acabar. às vezes tenho pressentimentos nada saudáveis... a música 5 mata-me. a Elis Regina desfaz-me a última réstea de ânimo que ainda me soprava dentro dos pulmões... pois é... esta música também não é nova. rien a faire. lembra-me outra música: je t'aime, diz ela e ele responde, et moi non plus. a violência pode traduzir-se num sussurro assim. e devia ser apedrejada, a violência.

hoje, ou ontem, sei lá, alguém me dizia o quanto tem mexido com o meu estar o nascimento da minha nova afilhada. é verdade, vou ser padrinho de mais uma criança, e agarro-me com todos os dentes a isso para reivindicar que não posso ser completamente ruim, para ter dois amigos que me confiam os filhos para afilhados, apesar de eu, para eles não ter segredos e saberem que a estabilidade emocional não é claramente o meu forte.

mas é a entrega. o espírito de sacrifício. o querer. a alma e a poesia que respiro na vida e nas pessoas, quando elas não estão a olhar.
do orgulho imenso que sobrevem, quando olho para o meu amigo, penso:
- uma coisa é certa. eu também seria um bom pai. minto, sinto que seria um pai extremoso e que podia ensinar este viver a filhos que tivesse, sem as mágoas de que os protegeria... se pudesse. e morreria a tentar. eu gostaria de ser um bom pai.

hoje precisava de escrever mais um pouco e exorcizar a têmpora que latejava desde que, há uns dias descobri o que era um cache-coeur e pensei que a tradução não era mais que "esconderijo de coração". ironia absolutíssima.


já não blogavas há um tempo, diziam-me há pouco e eu a ver a sombra a pairar à medida que se ia renovando o líquido e o copo. se tivesse dinheiro, seria claramente drogado. não sei em que droga, mas seria drogado. o gosto... qual gosto, a PAIXÃO pelo excesso, levar-me-ia, em tempos de agrura, a consumir em demasia o que quer que me trouxesse de novo para aqui. para este canto pequeno mas vivo, onde as agulhas gigantes anestesiam a vontade de ser e a trocam pela vontade de sentir e pairar acima do que, sendo real, me deixa triste por falta de coragem para viver...

Alicia vive... com o piano e as teclas que tocam as notas singelas e singulares ao som da chuva que cai lá fora - e se não está a cair, devia!


E tu, amigo? Quando vives?

E tanto que te querem dar e tu que não sabes receber...

Soy Marco...
não é verdade, mas é suficientemente parecido.

Até breve.

10 comentários:

Anónimo disse...

Isso.
Aprende a receber. E a ceder.
Quando estiveres preparado para o fazer, diz-me. M.

Anónimo disse...

Quem partilha momentos contigo, presencia uma garra ciclópica perante a vida. Quem lê algumas das tuas palavras conhece um pouco da tua fragilidade. Às vezes és tão paradoxal... mas sempre enriquecedor. O que esperas, porque esperas, o que procuras? Tens tudo à tua beira. Não pretendo obter respostas a estas perguntas, mas talvez valesse a pena que as desses a ti mesmo.

Anónimo disse...

Às vezes parece que és imprevisível para ti mesmo. Para onde aponta a tua bússola? A que cais estás amarrado? Tens o barco, o astrolábio, as estrelas para te guiares, mas... onde te leva a tua viagem?

Anónimo disse...

A menina do 'cache coeur', a menina que te disse para blogares, a menina que também anda perdida - há muito mais tempo do que tu -, que já não vê saída, que já digeriu que esta vai ser uma vida errante, não quer o mesmo para ti.
Respira fundo, abre os braços, fecha os olhos e salta. Lá em baixo tens um colchão de penas e plumas de anjo. Salta!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Tenho vontade de fugir...

A amargura das tuas palavras, a incerteza do teu sentir, a ausência de desejos, de vontades, desacredita-me...

Desacredita também a nossa história, é verdade temos uma história mútua e longa, a vida insiste em nos cruzar no labirinto e durante algum tempo caminhamos juntos...é sempre mágico, tal como o relógio.

As lágrimas caem-me quando te leio...ficarás tu para sempre por aí, por aí nesse sítio onde EU não chego e do qual me afastas.

Os teus olhos...se não fossem os teus olhos e aquilo em que eles me fazem acreditar...o choro assolar-me-ia a alma.

E as pernas...MALVADAS!!...levar-me-iam para longe...para longe do amor da minha vida...descobri tarde...mas depois de alguém acenar o cartaz com letras bem gordas, a loira percebeu. Como diz o povo, mais vale tarde do que nunca.

Que irónica é a vida... junta-nos insistentemente e depois...ESPERA! Culpar a vida? Que COBARDIA! Se existe culpa só pode ser nossa, minha, tua, dos dois, do que ainda não conseguimos construir...ainda...ou será que alguma vez? Só tu me poderias fazer duvidar disto...acreditar na dúvida, acho que é a primeira vez que me acontece. PARABENS, mais uma primeira vez juntos.

Enxugue as lágrimas, senhora! Senhora, como alguém diz e eu tanto gosto de ouvir.

Eu vou fazer por ser feliz, como gostava que a minha felicidade te contagia-se...

Mas eu não sou certa e o receio de ser magoado é arrebatador...eu sei.

Sinto falta das palavras que os olhos tentam mas não conseguem dizer...

O pensamento é: penso em mim e por continuidade em ti, em nós, nos outros e as letras parecem cair sobre o teclado. Já somos dois, não é?

Apesar de tudo estou feliz, também pelos momentos em que te faço feliz.

Parabéns por teres aprendido a chorar. Escondido, sozinho, mas a chorar...quando aprenderes a chorar com alguém e não só por alguém vais estar a receber.

Gostei da experiência, prometo voltar em breve. Também é a primeira vez que escrevo num blog, logo no teu...

Anónimo disse...

Maria. Mónica. 2 nomes de pessoas (perdoa-me a modéstia) foram importantes para ti. Pelos vistos, há mais. Vai. Salta. Vai ter com a outra M que te espera. Desisti demasiado depressa, dizes tu. Desististe demasiado depressa, digo eu. Se é para voltares para a outra M vai. Acho q nunca foste feliz com esta, por me comparares demasiado com ela. Vai se é a ela que amas. Vai à luta, como fazes com tantas outras coisas. Foi a mim que acusáste de não o fazer, quando na realidade és tu que não vais. Vai, e sobretudo, sê feliz. Se connosco tudo acabou pq meteste na cabeça que havia outra pessoa, agora chegou a minha vez de dizer basta. Andas a fazer jogo sujo, comigo, contigo e com ela. E disso não te posso perdoar.

Anónimo disse...

expõem-se demasiado sempre que caminham para a rua sem guarda chuva, num dia de inverno cerrado.
expõem-se demasiado sempre que vêm para a rua, sem chapéu, num dia de sol abrasador.
mas ninguém pode culpar o sol ou a chuva, dos escaldões ou da valente molha que apanham.
uma de duas: ou não olharam para o tempo ou não acreditaram no que viram.
o resultado final é sempre em função da ilusão assumida, ou do receio da realidade.
e ninguém culpa a chuva, ou o sol.
não faz sentido.

Anónimo disse...

Toda a gente sabe que a meteorologia já não é o que era. E eu, pessoalmente, prefiro os impermeáveis e os protectores solares. Chapéus há muitos, já dizia o outro, mas eu não sou fã.

Anónimo disse...

Gajas!...
Tem Cuidado, que elas são muitas.
"A franqueza não consiste em dizer tudo o que se pensa, mas em pensar tudo o que se diz."