segunda-feira, abril 18, 2005

memória

olhos redondos, grandes, e claros.

uma boca definida, delineada, linda.

a promessa de um beijo a cada movimento dos lábios que se abrem e fecham num movimento acompanhado de sons que nem ouço, de tão inebriado que estou na promessa do que pode sentir e fazer sentir aquela boca.

nos dedos vejo as memórias de viriato e o desejo louco dos celtas que, nos solstícios, viviam a explosão dos corpos como quem não vai ter amanhã. aliás, o desejo devia nascer e perdurar sempre assim: como se não houvesse amanhã.

imagino a pele macia a deslizar nos meus dedos e sonho com o mar que se atira como um louco contra as escarpas da encosta rochosa que observa o verde das ondas que vão e vêm... vão e vêm.
dizem que são constantes, mas não pode ser: se são femininas, as ondas só podem ser absolutamente loucas.
ora serenas, no mar calmo, ora distantes na maré baixa, ou revoltas e absolutamente possuídas nas marés vivas quando nos invadem o espaço de ser e respirar e se atiram com a violência absolutamente inocente e despudorada, contra a encosta rochosa... que já não vive sem o sal do mar.

toda a gente sabe que não há o que resista contra a fúria do querer do mar. mais tarde ou mais cedo, a encosta vê cumprido o seu desejo mais íntimo e, num embate da mesma onda que a fustiga e chama diariamente, as rochas quebram as amarras que as prendem à terra e deixam-se levar...lançam-se ao mar para se afogarem nas ondas verdes...

que delícia, assistir à angústia da encosta que perdeu parte de si e ao extâse da mesma encosta quando ganha parte do mar.

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo...