Pressentia o espaço vazio debaixo dos teus braços
Sempre que te arremessavas contra as portas e janelas,
Como se o destino que te estivesse fadado
Fosse semelhante ao dos vidros que quebravas
Com a violência displicente de quem não tem amanhã.
Eras arrojada,
alheada do tempo,
e a contradição aparente
inundava o meu imaginário
todos os dias e todas as noites.
Sempre houve quem te pudesse chamar de coragem,
Enquanto os teus detractores limpavam o suor do rosto
E atiravam com azedume palavras como impostora e falsa,
Ao que sempre te vi dizer que sim. Que sim. Que sim.
Dizias que era verdade, o tempo e o ímpeto
Não eram mais que um pequeno lampejo de loucura
Sem heroísmo, nem outros sentimentos de Quixote.
E calá-va-los.
Deixaram de atirar para ti o fumo e as achas de uma fogueira
Em que sempre sonharam queimar-te...
Não teriam prazer, em ver arder quem se oferecesse para morrer...
Não alimentaria os prazeres porcos de ninguém.
À medida que foste passando pela vida da gente,
Foi-se impondo a brisa suave com que limpavas o ar de respirar,
Foi-se tornando claro que há forças da natureza que não se combatem,
Foste-te tornando eterna.
Quando comecei, não te via, porque não sabia,
Enquanto cresci não te distingui, por me pareceres banal,
E mais tarde, já velho e cansado, com tempo para pensar,
Abrasou-me o peito, a saudade de não te ter.
Tenho medo de não te ver mais.
Porque quando eu morrer,
Não vou ter força, nem mérito
Para ir para perto de ti.
1 comentário:
mto bom!
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