quinta-feira, junho 23, 2005

surpreendeu-me

a contagem de visitas, quando fui há pouco ao meu blog. que estranho é, imaginar que há gente que vem ver o que escrevo, o que tenho para dizer e o que sinto, desta forma anónima.
nunca imaginei. mesmo.

não deixo de sentir um conforto pelo contacto que se estabelece com o mundo, apesar do mundo que aqui vem, saber, na maior parte, tão pouco de mim.

it makes you wonder...

ontem falava com alguém que me dizia que uma pessoa amiga, que não me conhece, visitava o meu blog com regularidade. confesso que nunca imaginei.

lancei o meu blog inspirado no exercício do Pedro que ao lançar o blog dele dizia qualquer coisa parecida com: "...alguns, poucos, terão o endereço do meu blog, mas posso não estar disponível para discutir o que aqui escrevo..." Esta segurança do anonimato ou salvaguarda de discussão biunívoca, fez-me escrever na net.
lancei primeiro os textos que escrevi há já muito tempo e, há medida que ia escrevendo as palavras antigas, foi despertando a veia que sempre suspeitei que pudesse estar prestes a latejar.
era um feeling que eu tinha: assim que abrir uma pequena fresta da porta, os sentires trancados no peito, farão força e abrirão caminho até à rua.
e assim foi.

nos primeiros tempos, o que escrevi foi tremendamente influenciado pela tristeza de uma separação recente. e é bem verdade o que já disse num post anterior: o meu espírito literário é pessoano, alimenta-se da tristeza, o malvado.
podia ser despoletado por coisas boas, mas infelizmente, não tanto.
mas até isso, acabei por descortinar e partilhar com o meu blog.

já lhe chamei nomes, já exultei pelo papel de mensageiro anónimo a que se prestou, já lhe agradeci o espaço e atenção que me tem dedicado ao longo destes últimos meses, sempre que precisei. tem sido um companheiro, como nunca imaginei.

tirei de mim muitos espinhos que espetei nos teclados dos computadores portáteis em que escrevi os meus posts.
arranquei de mim muitas mágoas, que qualquer profissional de saúde mental cobraria fortunas para resolver.
escrevi lúcido, poucas vezes, confesso. e escrevi grosso. alcoolizado, mesmo, a esmagadora maioria das vezes. faltará a coragem para escrever quando não há drogas?
penso que não. há apenas demasiados filtros societais que me fazem travar as velocidades vertiginosas em que me lanço quando escrevo directamente da alma para as letras...
optei já até, por escrever num bar, acompanhado, em directo, pela minha amiga russa, e saiu a história deliciosa do comboio.
gastei o cd do "habla con ella", pela tristeza que me desperta e pela vontade, quase imediata, de arremessar a ponta dos dedos para o teclado.

acho que, à medida que se escreve, quando se gosta mesmo, se vão purgando parte dos espíritos perturbados que passeiam na aldeia do nosso estar. é um exercício formidável, de tão libertador.

acho que é sobretudo saudável, e é isso que sinto que seja talvez a minha maior dívida de gratidão para o meu blog.
quando se tem, como eu, pouco gosto por discutir a vida interna com as outras pessoas, este caminho é um grito do ipiranga da independência do ser, são as cataratas do niagara do pensamento, ao mesmo tempo que se transforma na exposição permanente do quai d'orsay da minha alma. não que tenha a qualidade para, mas apenas porque mostra o que de melhor aqui se pinta. à escala da minha insignificância...

não encontro nas pessoas a facilidade de ouvir e a predisposição para escutar de forma ligeiramente premonitória e, por isso, escrevo no blog. tenho que agradecer ao Pedro a inspiração. mal sabe ele o que despertou... o monstro... :-)

talvez não seja um monstro, o que acordou, gosto eu de pensar.

mudei até de formato de posts. mas nunca confessei bem o porquê: comecei a sentir-me mais exposto do que gostaria. aqui há muito tempo várias pessoas me disseram que a minha escrita era tenebrosa (afinal tratava-se do espelho da alma...), mas depois já começavam a perceber e a comentar.
perdia-se a salvaguarda e inaugurava-se o período de adaptação ao contacto directo com os comentários escritos e pessoais, sobre o que eu escrevia.
não contei a ninguém, mas tive que aprender a ouvir e ler o que pensavam sobre o que eu pensava.

esse tempo também passou, e ficou o gosto de sentir o cordão que se estabeleceu com o mundo, neste campo das ideias e dos sentires.

por isso hoje fiquei tão surpreendido com o número de visitas... curiosa esta vida que vivemos. e que surpresa.

noutro dia conto-te mais coisas destas, das directas, meu amigo blog.

5 comentários:

Anónimo disse...

Um mensageiro... leva mensagens tuas a destinos que por vezes não escolhes e revela quem "te visita" sem que lhe abras a porta.
Um espelho, pois devolve-te uma imagem, a tua aos teus olhos e às vezes a imagem, para ti desconhecida, que os outros têm de ti. Fazes dele um confidente, talvez por isso lhe chames amigo...

Dia disse...

Também não sei passar sem o meu blog ( (e, sim, também sem o teu, apesar de eu ter sido daquelas que achava que, ao início, a tua escrita difícil para caraças).
Não sei passar sem os meus leitores, os meus amigos; os que conheço e os perfeitos estranhos.
É droga. É mesmo como uma droga.

Anónimo disse...

é a primeira vez q venho a este blogue, mas n vou voltar. odeio erros ortográficos! «à pouco»? mas o q é isto?!

mac disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
mac disse...

"Isto" é um erro ortográfico que agradeço a correcção.
Se procurares, vais encontrar mais, concerteza.
Não gostas... Temos pena, e boa viagem.