Desde que escrevi o post anterior que o meu destino de viagem tem sido badalado nas notícias pelas piores razões possíveis.
Não confesso a ninguém mas sinto o peito apertado de uma vontade louca de largar a correr de volta para colocar os braços à volta das crianças novas e mais velhas que me sorriram em Myanmar.
Como é fácil ver à distância o destino triste de um qualquer povo que não se conhece e como difícil se torna ver cair e ser violada uma forma de viver que se pauta pela suavidade e harmonia com os outros seres humanos, de que eu fiz parte.
Que fácil foi concerteza para a junta militar de Myanmar, há já algumas dezenas de anos, ter conseguido subjugar e dominar um povo que se preocupa mais com a sobrevivência do que com qualquer outro excesso e supérfluo luxo como o regime democrático do seu país.
É bonito dizer dizer “liberdade ou morte”, desde que a morte não seja à fome.
Mas até os mansos têm limites. As convicções que fizeram com que este povo se mantivesse ordeiro, sereno e pacato assentam na religião que praticam e no respeito pelos outros, sobretudo pelos monges e pelos mosteiros para onde enviam as crianças para aprender cultura e preceitos de humanidade, como me dizia um homem com quem falei. “Ali – dizia-me – os jovens aprendem a ler, a escrever, a matemática, as ciências, a palavra de Buda e, mais importante, aprendem que o respeito pelos outros deve ser uma prioridade absoluta.”
O conceito arrepia, de tanta falta que faz ao presente em que vivemos. Se o tivéssemos, seria como abrir uma grande barragem no Nilo para deixar alagar os campos que depois de carregados de fertilizantes naturais produziriam as melhores colheitas de gente.
Os militares de Myanmar terão criado um problema que só conseguirão resolver à custa de muito sangue e vítimas inocentes. Estes monges, apolíticos por natureza, reúnem a simpatia e carinho do povo que viu serem devastados os mosteiros onde aprendem as crianças.
Esta treta pode dar merda.
E muitas crianças podem ficar sem ter onde aprender a sorrir para os outros.