segunda-feira, novembro 28, 2005

lost... in time



Se eu não tiver tempo para escrever, também não tenho tempo para viver.
Se escrever é, geralmente, a primeira parte do meu tempo livre, então se não escreve, muito mal estamos.

Não é fácil enquadrar a vida de hoje, crua e tão fria sem mim, no que sonhei em tempo para o tempo que deveria estar a correr hoje.
Se a distância resumisse o barómetro da satisfação dos meus dias, teria quilómetros de tempestade e metros de neve sobre os caminhos que não chego a percorrer.

Não saio de lugar nenhum, a marcar passo. À espera de uma qualquer marcha que coloque em movimento os membros já quentes de tanto baterem os pés nas lajes frias do chão da parada.

Imagino o dia a entrar e a sair do céu, enquanto as almas penadas pairam cá em baixo, por cima da cabeça dos outros. E nem as horas se ouvem a passar.


quarta-feira, novembro 16, 2005

conclusão

nesta semana de estafa autêntica, que tenho vivido, concluí uma coisa interessante: o cansaço físico é, concerteza, para muitos, a principal causa de falta de brilho, de vontade, de ânimo e alegria.

curiosa, esta influência do corpo, na vida da gente.



quarta-feira, novembro 09, 2005

Arquétipos

Que me perdoem os psicólogos, pelo título cagão.
Ontem, num jantar de amigos, contei uma coisa que ouvi há muitos anos à minha ex-mulher.
Discutíamos sobre as putas das mulheres e, relacionado ou nem por isso, a conversa foi parar aos homens que as mulheres querem. Ouvi coisas que me fizeram tremer as fundações da minha crença na raça das mulheres.

As expressões utilizadas eram estas, ou parecidas: “eles não sabem fazer bem feito", ou, "eles não retiram o melhor das mulheres", ou ainda, "eles reprimem aquilo que as mulheres podem fazer, ser e tornar-se”.

Minha nossa! Como se as mulheres fossem esses seres frágeis que só brilham se tiverem as luzes da sala!!
Recuso-me a acreditar nisso. E, seguramente, não quero essas mulheres na minha vida.
Quero e gosto e acredito que as mulheres brilham a partir de dentro!
Esta raça tem mais alma que qualquer alazão puro árabe zangado!

Há poucas coisas mais deliciosas do que ver cumprir o valor de uma fêmea adulta. Caramba, tem que se lhes tirar o chapéu. Às que merecem. Porque, pelos vistos, não são todas assim.
Todas reclamam pelos direitos que querem, justamente, iguais aos dos homens.
Mas, depois, muitas delas são capazes de dizer: “não foste capaz de fazer evidenciar o que de melhor há em mim”.
Oh, sub-raça vadia...

Que desalento quando as vemos encostadas aos muros dos dias, à espera que as façam mexer para onde quer que seja, acomodadas pela tradição e pela história do domínio antigo.

Merecem mais. Elas e nós, os homens que as queremos.


Que as queremos como iguais!
Que as queremos aliadas no esgrimir diário do curso dos segundos pelas vidas.

E muitas... nada. Moita, carrasco. Nicles.
Nessa altura, – que lhes convém, porque não obriga à iniciativa de viver – aguardam pela voz de comando que, se for muito alta, se apressarão a contestar como tirânica!!

Mas o que é que é isto que se passa na cabeça de tantas mulheres?!

Tão depressa estão desejosas e aguardam de mãos postas no regaço, que venha um cavaleiro andante que as leve ao colo e lhes apanhe um lenço e as leve a casa e as faça felizes, que as conduzam pelos caminhos doces da vida; como a seguir, se o bruto não cumprir o seu papel de condutor de acordo com os parâmetros encaixados no seu ideal pré-definido e sonhado em noites de lua cheia alinhada com mercúrio e em desnível com vénus,... aí -ai, ai- vem o carmo e a trindade pela rua abaixo com a mão na anca a gritar a injustiça das prepotências do macho... que devia era ser preso.

Algumas mulheres são assim, da mesma forma que elas poderão dizer que assim são também alguns homens.

Então, porque ficam uns com os outros e se quedam conformados em vez de gritar alto que, “Assim não dá!” “não quero acomodações!”.
Para mim, o fleumatismo devia ser queimado vivo. “Pode ser...” “Se tu quiseres assim...”

“AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHRRRRRRRRGGGGGGGG !!!!!!”

Não!! Não “pode ser” porra nenhuma.

Ganhem a vida. Conquistem a alma dos vossos e vossas companheiras, como se não houvesse amanhã.
Acendam as velas de dentro do corpo e matem a sede de luz dos olhos que vivem aos lado dos seus...

Ou então, percam a esperança, enterrem o sorriso, matem a alegria de estar e pactuem com o que "não era bem assim que tinha imaginado...".

E aí: morre-se vivo. E não se diz nada a ninguém.

Os arquétipos ficam para outro dia. Hoje vieram outros ventos, outras brisas...


Parte II

Estou no msn, numa conversa paralela à escrita e saiu-me, de rompante, uma verdade de vida de tantos e tantos tolos românticos...

“...o teu negócio é um amor louco e avassalador que te arraste pela sala enquanto te entregas de braços abertos a desejar que não acabe o sofrimento de ser feliz...”

O que posso dizer mais, que não seja agora pequeno?...


giro

terça-feira, novembro 08, 2005

dança


serpenteio à tua volta enquanto te observo
a avançar timidamente por entre os pilares
que te ergueu a madre social de todas as gentes.

tu, vacilas.
eu, serpenteio.

domingo, novembro 06, 2005

desenterrado

não costumo meter as mãos nos bolsos mas, hoje, encontrei um caderno antigo num blusão que me ofereceu o meu irmão.
uma coisa com umas folhas muito pequenas e com uma caneta promocional de um laboratório farmacêutico, que me ofereceram.
aliás, confesso que adoro prendas. mesmo estas mariquices que depois acabam por se revelar, algumas delas, de muito pouca utilidade.

nas primeiras folhas, estavam os preço de frigoríficos e máquinas de lavar. vários modelos em várias lojas... restos de uma guerra do princípio do ano, quando me mudei para a minha casa.

a surpresa veio depois, na terceira ou quarta folha. era a minha letra, claramente. mas muitíííííssimo torta! tão inclinada e inconstante que só havia uma conclusão a tirar: grosso, muito grosso.
foram coisas escritas numa das noites em que saí sozinho, para os bares, à procura da minha amiga russa e de umas músicas para ir entretendo os últimos minutos de sobriedade do dia.
cheguei a escrever no portátil, que abri na mesa do bar, enquanto, à volta, os grupos de amigos, ou só conhecidos, se entretiam a rir de tudo e mais alguma coisa, enquanto atiravam o seu melhor charme para cima uns das outras. e vice-versa e what-so-ever.
lembro-me de ter escrito também em papéis que apanhava à mão. e, pelo vistos, apesar de não me lembrar, escrevi também neste bloco.

lúgubre, como a maioria do que escrevo, e a totalidade do meu pensamento, na época.

"O semblante estava carregado
como as nuvens
nos céus cinzentos de Dezembro.

Lembrei-me do sol
quando rasga o céu
e espalha a luz através dos dias escuros
enquanto anuncia a descida dos anjos.

Foi assim.
Só não foi comigo.

Foda-se a vida e quem lá anda dentro."

Pode haver alguma palavra que não era exactamente assim, no original. Mas foi difícil decifrar o manuscrito.
Pós Stolichnaya. Claramente.

...grrr...


odeio profundamente sentir o desamor da distância que se instala entre as pessoas.
mais do que o corpo, mais do que se diz ou faz...
o que mais impacta na vida, de alguns, são os sentires.

e fica tudo tão mais pobre se não ouvem a brisa que sopra da mente de quem estiver próximo...

sexta-feira, novembro 04, 2005

à medida


que o tempo
avança e entra na noite
aumenta o meu bem estar
dentro da solidão.


apetece-me repetir

um post antigo. de Janeiro.

a beleza da arte, também pode ser dura.

...

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.

E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus

Eugénio de Andrade

oDe do AmIgo gigANte

"the past is like a different country; they do it differently, there" Charles Dickens

de tudo podes retirar ânimo, como só algumas pessoas sabem.
não sabem que têm dentro, essa facilidade de viver, mas nota-se bem, sempre que os ouvimos reivindicar a justiça das coisas ou o riso indiscreto que atravessa as ruas da vida dos outros.

minha querida, tens, como poucos, quem te queira mais do que bem, perto de ti.
tens também, como poucos, quem possa abdicar de parte do seu bem estar, pelo teu.

queixas-te de quê?... eu sei...
da vida não ser perfeita... e fazes isso porque és romântica e fadista até ao tutano dos teus ossos.
é por isso que vais perseguindo estas quimeras malucas que sabes (sim, tu sabes, logo à partida) que têm tudo para correr mal.
mas tu optas por saborear a adrenalina das coisas que não podem ser, e trincar o freio nos dentes, para poderes ir para qualquer parte.
és mesmo assim.
e, quando negares esta natureza, deixas de ser tu, e passas a ser outra coisa qualquer.
mais desinteressante, concerteza.

portanto, a pergunta que parece pedir resposta, e que a tantos vejo querer responder, é:
o que raio devo fazer eu à minha vida? como evito isto, de que sofro, no futuro?

e a resposta, para mim, é fácil.
eu discordo de todos os que te dizem "não vás por aí". apetece-me lembrar-te alguns excertos de um poema do José Régio
...
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos....
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao Mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue e cânticos nos lábios...
...

Tu és assim, xuxu, como gosto de te chamar às vezes. tu precisas que os teus dias sejam preenchidos pelo arrebatamento de viver.
a, praticamente, qualquer preço.
um preço de que nunca te lembras, nos princípios (outro poema lindo...).
atiras a cabeça para trás e avanças a correr para dentro do que todos os outros te dizem serem abismos indiscritíveis.

O que é que eu acho? Acho que essa é a tua, muito tua, forma de viver feliz. e não deves procurar o que não te satisfaz, a perseguir uma qualquer ideia de felicidade serena...
Se a encontrares, a felicidade, esse mito urbano, vai ser no meio das refregas que travas nos teus dias loucos e com esse sabor que adoras. E, sem o qual não consegues viver.
Não deves, nem podes viver de outra forma.

"mas que merda que é, sofrer assim! não quero este penar tão grande, tantas vezes na minha vida" podes dizer-me, como se estivesses zangada comigo.
e eu terei que te lembrar que esse, é o privilégio de quem saboreia mais e vive com mais calor, a vida que, para a esmagadora maioria, não passa de um inverno permanente.

daqui a duas semanas, isto que sentes hoje, será um passado guardado já com uma dimensão muito menor...

e estarás já lançada numa outra qualquer loucura que te vai preencher o pensar e rasgar sorrisos nos lábios!
e eu vou estar lá também. a rir-me contigo.



os meus carros

Passei os últimos dois dias a viajar, de carro. Viajo muitas vezes: noblesse oblige profissional. Eram 10 da noite e vinha para casa a pensar que gosto de correr.
Adoro andar muito depressa. Adoro sentir aqueles pequenos balanços das curvas mais rápidas da vida, não,... da estrada, em que o carro parece que vai sair descontrolado contra um rail qualquer ou se vai enfiar em qualquer buraco, ao lado da estrada. Mas depois, num qualquer golpe de asa, as coisas acabam por se estabilizar. E não morre ninguém. Demora mais ou menos tempo, mas tem acabado tudo por estabilizar e lá sigo viagem.
A chatice é que só gosto de andar assim. Acho até que só sei andar assim. Com a percepção clara de que tenho nas mãos a decisão de, a qualquer momento, poder decidir espetar-me a direito numa qualquer curva.

Basta não virar ligeiramente e falhar a curva ou até, à velocidade a que viajo, dar uma guinada mais forte e descompensar o equilíbrio... do carro.