sexta-feira, maio 26, 2006

a rejeição

é verdade que é um tema meio melindroso, mas são mais os fantasmas do que os estragos efectivos na carne e nos ossos que a sustentam.

bem vistas as coisas, faz parte da nossa natureza humana não concordar com tudo o que se nos atravessa no caminho. então qual é o problema de ver chumbado um projecto, ver debatida uma ideia, ou até levar uma belíssima tampa?
devia ser zero, o problema, mas temos hoje chaise longues e sofás carregados de sulcos de corpos de gente que se debate com angústias que inventou num dia de chuva em que não podia sair de casa para arejar ou ir a um qualquer centro comercial sonhar com uma blusa nova ou uma sainha plissada... caricatura à parte... a verdade é que fomos desenvolvendo o estigma do porcelanismo chinês. e partimo-nos ao menor sopro.
que raça de gente é esta sobre quem se fizeram poemas como o V Império? descendentes de raças cruzadas entre viriatos rudes e mouras formosas e quentes, que já saboreou o sucesso, as vitórias, as derrotas, os terramotos e a loucura geral, e nunca deixou de se levantar com os olhos esgazeados de sangue a perseguir os últimos rastos de vida de inimigos a abater?

amaricámo-nos um bocado, deixem-me que vos diga...
não há outra forma de pôr a coisa (bom... quer dizer...)

o povo hoje não aguenta uma contrariedade sem ir a correr alimentar a grossa e fausta carteira de qualquer professor "karamba" mais ou menos diplomado por uma mais ou menos famosa escola especialista de cultos ocultos. ora gaita, mais a isto, que a gente que conheço do meu país merecia mais consideração e respeito pela garra e vontade do que este porcelanismo chinês pseudo moderno.

nhecs.
e double nhecs.

e sabem o que acontece a esta malta medrosa (quase que me enganava a escrever isto...)? este pessoal deixa de arriscar e de se lançar a jacto para a conquista de coisas novas e acomoda-se nas tais mantinhas que tanta volta me dão ao estômago! (arre, que quase me saem impropérios menos próprios...)
quem é que ensinou a esta gente que os joelhos esfolados fazem mal, e que partir a cabeça não é mais do que uma parte indispensável do processo de a construir e preparar para ser tremenda e forte e preparada para a briga da vida ?!
quem é qe ainda se atreve a desperdiçar tempo a dar palmadinhas nas costas de quem entalou um dedo na porta e nem sequer ficou com menos um coto?!
foi só uma entaladela, foi só um joelho, é só uma dor de cabeça!!!! não é preciso invocar o deus mais graúdo de um qualquer monte olimpo, porque também não se trata de um mal maior que põe em risco a humanidade.

em boa verdade, tal como os bebés, também os adultos aguentam muito mais do que aquilo que os próprios, e os outros, podem achar.
o que põe em risco a nossa raça, é esta choraminguisse pegada que afecta do mais delicado ao mais peludo. é que, mais tarde ou mais cedo, não vai haver quem nos ature.

meus caros, minhas caras, corremos o risco de entrar em vias de extinção por definhamento auto induzido, é o que é.

despeço-me com amizade e até ao nosso próximo programa (como dizia o saudoso).

quinta-feira, maio 18, 2006

singela


porque a beleza não se fabrica.
nem se consegue disfarçar

segunda-feira, maio 15, 2006

play it again, sam

o dia arranca da cama mais um sopro de sobrevivência.
é só pôr cara alegre e empurrar mais uma folha do calendário.

quase a propósito uma piada interessante:
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ORAÇÃO DA MULHER

Querido Deus.
Até agora o meu dia foi bom:
* Não fiz fofocas,
* Não perdi a paciência,
* Não fui gananciosa, sarcástica, rabugenta, chata e nem irônica,
* Controlei o meu SPM,
* Não reclamei,
* Não praguejei,
* Não gritei,
* Não tive ataques de ciúmes,
* Não comi chocolate,
* Também não fiz débitos no meu cartão de crédito (nem do meu
marido) e nem passei cheques pré-datados.

Mas peço a tua protecção, Senhor, pois estou para me levantar da cama a qualquer momento ...
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sexta-feira, maio 12, 2006

distant mindbreath

se o castanho raiar de verde podemos imaginar o corpo esguio das árvores fundir o doce das folhas?

o que sentirá a ponta de uma pena enquanto escorrega na pele macia de pontos que se unem com os dedos que percorrem a vida à volta dos braços doces que se entrelaçam nos meus enquanto se eriçam os poros arrepiados por não ter ninguém a quem contar a história de uma vida louca de prazeres complexos como o vinho que nos escorria dos lábios para dentro do calor de um corpo ardente de uma febre que já não sabia parar de aumentar.
se fechares o olhos e sonhares, sim, de olhos fechados, imagina o sabor da suavidade abandonada de um beijo que traz o fim dos sonhos suaves e das noites frias.
imagina que se espalha na praia do teu corpo uma onda de calor que te invade devagar...
e o resto é o tempo a fugir debaixo do bater descompassado do peito a abrir caminho entre o espaço artificial criado entre os corpos que clamam ter sido feitos para sentir o baque crescente de um prazer que as paredes não sabem conter e atiram pelo ar que cai sobre as cabeças que se fitam enquanto falam calados os lábios.

quem pode não querer dias assim?

porque se escreve?

PS: (eu sei que os post script são no fim, mas este tem que ficar aqui...) como diria a diana, este, é absolutamente intragável e desconexo. não recomendo o resultado nas letras dos momentos que sinto assim.

o título não é feliz. conta uma história antiga numa ode nova a vidas de ontem, agarradas ao sabor do mil pedras dispostas em calçada ao longo de uma estrada sombria e gasta de passarem por lá as peças de teatro, feitas do sal que, com a suavidade de uma dor aguda vai fechando o espaço em volta da aura triste de uma noite cansada.
não sei escrever nem como explicar o porquê de coisas simples que avançam lentamente para dentro de mim com o doce estandarte de horizontes que não posso explicar a ninguém. vive-se a vida em surdina para não acordar o inconscinte que, de quando em quando, ousa e adivinha paços de um palácio que descobre, por debaixo do verde carregado de simplicidade e vida de uma arte simples mas nova de delicada.
cartas que nunca escreverei.
absurdos e gritos que nunca atirarei para o ar leve e solto que entraria pela janela do mar adentro, enquanto dormisse.
vidas que nunca ligarei entre si com os efeitos redondos de um caracol que desce em espiral até um centro que mais ninguém sabe onde fica. não é tanto o futuro que faz falta, é a ausência de presente próximo, tão próximo que fica entre aqui e já ali à frente.
travam-se batalhas tremendas dentro de uma guerra com fim anunciado? não sei o que é isso, de fins anunciados, tantas foram as vezes que os fiz e desfiz no percurso aparentemente breve das minhas horas de que ninguém sabe nada.
guardo para aqui as partes amargas na certeza de que não me conhecerão assim; aqui ficarão soltos os fantasmas e as histórias por contar, dentro de palavras imperceptíveis e frases sem nexo. vão viver juntos aqui e sorrir para ninguém, enquanto as lembranças me povoarem o espírito de não mais querer estar assim. fogem e recuam enquanto se desviam de quem se passeia nas horas tranquilas de uma manhã que não vai ter o mesmo sol e o mesmo sabor a madrugadas salgadas.

há muitos anos prometeram-me amarrar um barco ao pé de mim para poder sair de entre as portas da terra firme e largar por aí descompassado mas feliz por não ficar inerte como as plantas que esperam o vento para poderem mexer folhas que viram e adivinharam o peito de um sorriso feliz.
são longos os dias que precedem as noites cansadas de esperar por uma luz mais fraca e azul de reflexos de um mar onde o verde da água limpa e transparente se mistura no castanho da terra revolta povoada por gente de dedos esguios como faziam crer os filmes de gente que vinha de outro lado.
não acreditam na natureza e fazem das palavras as mentiras que nunca viveram, não reflectem a fé nas máres nos olhos molhados pelo rubor de uma inspiração que já não existia há muito. e precipita-se a lua para dentro de um mar salgado pelas lágrimas de angústias e memórias que nunca trago nas horas amenas.
se a loucura fosse uma opção, escolhia-te já, para não sentir os dias de alvor seco e o restolho das searas que morreram do sol que abrasa decidido o campo onde vive ninguém.
gosto de música. e sei que se receiam orquestras gigantes de cordas, metais, sopros e tantos tantos tambores. ver da plateia... nunca... nunca... prefiro estar dentro e sentir a fúria de uma natureza estranha que canta em harmonia e com a violência de uma beleza atroz e arrepiante... nunca da plateia... prefiro aprender ou morrer a tentar perceber o que faz lindo um trapo composto de nada com cores que não vivem sozinhas sem a música que toca e assoma aos ouvidos de gente com medo dos estilhaços, parada ao longe, separada pelo fosso que os protege do avançar impiedoso das emoções para dentro das convicções do viver...
ouvem-se ao longe as cordas de um corpo que vibra de medo por não ter presente próximo... e o futuro foi já ali à frente e volta mais tarde em cacos ou peças pequenas de um puzzle de lamentos de felicidade.

quinta-feira, maio 11, 2006

todos os dias se morre devagar


mas de vez em quando assalta-nos a vida a malvada da morte que teima em arrastar pessoas de quem gostamos e destruir por muito tempo as felicidades ainda mal sustentadas em cima de pequenas paliçadas tímidas e capazes de imaginar em sonhos soltos de olhos abertos um futuro feliz.
eu vi os olhos dela e a imaginação a passear por tempo de sol.

e, de repente, com a brutalidade de um soco nos olhos e um pontapé nas costas, arrancaram o tempo de viver a uma gente amiga quando atiraram raios de fogo para o peito de um bom fulano que tinha o coração doce por gostar de viver. viver com ela.
não se poderá arrumar e repartir a força do coração para amar sem pagar por isso o preço do corpo que sucumbe? egoísta de merda, o corpo da gente, em tanta coisa e também nesta.
não há lágrimas que se possam derramar para outra coisa que não seja fazer da água à sua volta aquele elemento que ameniza as temperaturas absurdas e tempestades horríveis por que deve estar a passar esta amiga.

se a proximidade valer o conforto dos ombros gigantes que tenho, não te preocupes com o sofrer. eu apanho um pouco do teu, e fica comigo até o afastar de ti.

porque as homenagens se fazem por carinho, por mérito absoluto, por solidariedade, e por uma imensidão de coisas, e por tudo isto junto, este post é em memória de pessoas boas, sempre vivas no que de mais precioso temos: o tempo. seja ele um tempo real e presente ou antes um tempo de memórias tão vivas como os dias que escorrem incertos e tantas vezes com menos valor.

mais novo que eu. humano, sincero e um sorriso franco que lembro com facilidade. e boa gente. logo este, entre tanta merda que havia para dispensar.

Para o Rui e para a Vanessa, com carinho, ainda no calor do assalto estúpido das notícias.

quarta-feira, maio 10, 2006

a caminho de lugar nenhum

(person at the window, by salvador dali)

E se fechasse os olhos? O que imaginava?
Não posso fechar os olhos.

Prefiro sonhar acordado.
Porquê?
É fácil de explicar: deixar correr o pensar e o imaginar pelo espaço de uma tela vazia, permite pintar a obra mais louca que queiramos e chegar a destinos virgens de qualquer contacto e contaminação pelo real. Isso, é verdade. Sonhar de olhos fechados não tem limites, mas também não faz ligação à pele de quem sonha, a partir do momento em que acorda. O desfasamento com o real é tão grande que se desvanece no ar da primeira luz que nos entra nos olhos. Fica uma memória vaga, um aroma de fundo, difícil de recordar e mais ainda, de saborear.

Sonhar de olhos abertos é um exercício de quase dissociação de ser, estar e sentir. Significa que imaginamos uma realidade alternativa com os olhos postos na vida de hoje que agarraríamos ao colo e roubávamos para um descampado livre onde, em transe de loucura, nos entregávamos ao desejo de lhe fazer nascer um filho novo. A realidade, essa mulher roubada e arrebatada, resistiria como convém a quem é arrastada para longe do sua normalidade, até sentir o calor de um querer diferente, que arde no peito quem quer e queima a pele de quem sentir tão perto o impacto capaz de derrubar couraçadas de uma qualquer samurai mais artilhado.


(the ship by salvador dali)

Quando se desprendem dos olhos estas imagens para se irem colar ao mundo presente, perdemos também um pouco de contacto com o que é possível e é normal que as estribeiras societais se desprendam do lodo onde estavam amarradas. E largam por mar adentro, a realidade e as imagens novas.

Sonhar acordado implica atirar formas e sabores novos para uma tela que já é. Enquanto navegam a rédea solta, estas gentes vão matando a sede de inspiração nas imagens criadas que vão adaptando a uma qualquer vida real que fazem por alterar. Ou até não.
Por não adormecerem, vão testemunhar na primeira pessoa os arrepios reais dos sentires que sopram de um qualquer mastro erguido a desfraldar a bandeira de uma independência nova. Países houve que se criaram de quereres assim. Gente houve que morreu pela viagem de um sonho louco.
É outro que escreve. Cerrados os dentes, agride o ar que atravessa com os olhos até chegarem ao sonho que ousou levantar a custo, de uma enxerga dormente onde jazia moribundo.
Que ganha, quem sonha acordado? Garantidamente, ganha mais penar, por sentir perto o que pode nunca chegar, ganha em desilusão por ver que as miragens podem não ser mais do que areia de um qualquer deserto árido e escaldante.

Mas também ganham. Ganham o prazer absurdo, louco e incontido de levar a alma para lá das portas do razoável e humano, enquanto seguram cimatarras nos dentes e desbravam lugares escondidos dos olhos dos outros.
E, porque estavam acordados, vão lembrar-se a vida toda. E conseguir invocar os sentires quase sempre que queiram.



(reminiscence archeologique de l'angelus by salvador dali)
E perguntem-me, como vivem felizes estas gentes?
Confesso que nem sei se é possível...
Viverão de memórias e, como se pode imaginar, optarão provavelmente por continuar a sonhar acordados.

perdi...


...a conta ao aroma de inverno que se afasta enquanto chega o tempo de verão.
o ontem funde-se com os tempos que estão e seguem, e deixam mais próxima a languidez do tempo de praia.
arrasto os olhos de forma descarada, como é hábito, e fixam-se por onde passam os minutos do meu tempo.
voltou um tempo de outro heterónimo.

renasceu de entre as lutas titânicas pelo domínio das letras que escorrem das pestanas molhadas, pelo sal do mar. e fica até lhe apetecer, comme d'habitude.
travam-se batalhas de silêncio pelo posse dos sons mais pesados e dos gritos mais altos e não há maneira de declarar vencedores nem vencidos. arrastam-se feridos para mais uma injecção de qualquer droga mortal que os permite voltar a cruzar os ferros e agarrar os punhos com vontade de vencer uma guerra que não tem fim.

esgrime-se com arte enquanto se mata com crueldade a natureza social das coisas do mundo.

e vê-se caminhar, indiferente ao tempo e à angústia do prazer de querer, entre os despojos de um mundo assustadoramente novo.
só vale a pena viver com o sangue nas veias.

quinta-feira, maio 04, 2006

welcome


por vezes, perdido entre as horas e os minutos do dia, entra um raio de sol que dá cor ao outono que cai dos meus olhos.

delicioso.

no name




o Natal, como a tristeza de morrer acordado, são quando um homem quiser.

A gaita é sair.
Ou não.

foggy times


E se o dormir for uma condenação de alheamento temporário, porque não merecemos contemplar o que quer que seja durante algum tempo?
…faz sentido?... não. But then again, é só mais uma loucura.
Ou talvez nem tanto.


O certo é que é insultuoso o tempo que se passa sem fazer nada e a aproveitar coisa nenhuma porque,… estamos a dormir.
É como se de um mau período da vida, se tratasse, que se repete todos os dias a partir da hora de deitar. Até os sonhos desempenham o seu papel alucinado e triste ou estupidamente feliz, por não fazer parte das coisas reais.
Como nos momentos maus, estamos num estado latente, onde a vida não avança, antes pelo contrário, e o melhor que se pode fazer é desejar que passe depressa. E que não nos pese o tempo morto.
E se o dormir for um pequeno vírus, muito virulento, muito peganhento, que se agarra a uma pessoa e lhe vai minando as defesas de viver com vontade, até se transformar numa qualquer lagarta que se arrasta pelas folhas da couve, quando ainda há poucos dias era uma borboleta de cores e asas de arrasar o mundo. Esta podia perfeitamente ser a gripe das aves dos tempos modernos. A involução das gentes, para dentro dos casulos para perto de onde nunca deveriam ter voltado. De fácil mutação e propagação mortal entre os humanos. Os que sobrevivam, ficaram tolos demais para atirar um sorriso ao futuro que se foi embora na camioneta das 5.

Já fomos heróis das nossas próprias vidas, num ou noutros dias mais felizes mas hoje assistimos ao despertar de crisálidas que nunca vão ganhar o céu do sol, e da chuva e das estrelas, e das trovoadas e das auroras boreais e dos perigos e belezas da natureza, porque algures no tempo, optaram por começar a viver paradas nas couves e ervas de que se alimentavam de forma fácil e sem esforço. Enquanto engordavam, acomodadas à abundância e ao sabor do que não tinham que ganhar, foram dormindo umas sestas na hora do calor, para passar melhor o tempo até chegar hora de comer outra vez. Deixaram de procurar variar e levar os olhos até mais longe do que aquele caule incrustado de calos rugosos, com quem se começaram a identificar e a fazer parte da família… daquela gente só e triste que se preocupa com o que está perto e já não olha para os dias. É como se fossem noites sem qualquer luz e respirar sem oxigénio nos pulmões.
A fuligem da chaminé por onde ressonam ribomba no peito de quem não tem a natureza apodrecida pela preguiça e pela porcaria de não ter outra elegância além de um qualquer cobertor que lhes tapa as orelhas frias.

O gelo, que sobrevive e cresce na inactividade, agradece, e convida a ficar… e dormir mais um pouco.

Já agora… talvez não valha a pena acordar. Why bother?