sexta-feira, maio 12, 2006

porque se escreve?

PS: (eu sei que os post script são no fim, mas este tem que ficar aqui...) como diria a diana, este, é absolutamente intragável e desconexo. não recomendo o resultado nas letras dos momentos que sinto assim.

o título não é feliz. conta uma história antiga numa ode nova a vidas de ontem, agarradas ao sabor do mil pedras dispostas em calçada ao longo de uma estrada sombria e gasta de passarem por lá as peças de teatro, feitas do sal que, com a suavidade de uma dor aguda vai fechando o espaço em volta da aura triste de uma noite cansada.
não sei escrever nem como explicar o porquê de coisas simples que avançam lentamente para dentro de mim com o doce estandarte de horizontes que não posso explicar a ninguém. vive-se a vida em surdina para não acordar o inconscinte que, de quando em quando, ousa e adivinha paços de um palácio que descobre, por debaixo do verde carregado de simplicidade e vida de uma arte simples mas nova de delicada.
cartas que nunca escreverei.
absurdos e gritos que nunca atirarei para o ar leve e solto que entraria pela janela do mar adentro, enquanto dormisse.
vidas que nunca ligarei entre si com os efeitos redondos de um caracol que desce em espiral até um centro que mais ninguém sabe onde fica. não é tanto o futuro que faz falta, é a ausência de presente próximo, tão próximo que fica entre aqui e já ali à frente.
travam-se batalhas tremendas dentro de uma guerra com fim anunciado? não sei o que é isso, de fins anunciados, tantas foram as vezes que os fiz e desfiz no percurso aparentemente breve das minhas horas de que ninguém sabe nada.
guardo para aqui as partes amargas na certeza de que não me conhecerão assim; aqui ficarão soltos os fantasmas e as histórias por contar, dentro de palavras imperceptíveis e frases sem nexo. vão viver juntos aqui e sorrir para ninguém, enquanto as lembranças me povoarem o espírito de não mais querer estar assim. fogem e recuam enquanto se desviam de quem se passeia nas horas tranquilas de uma manhã que não vai ter o mesmo sol e o mesmo sabor a madrugadas salgadas.

há muitos anos prometeram-me amarrar um barco ao pé de mim para poder sair de entre as portas da terra firme e largar por aí descompassado mas feliz por não ficar inerte como as plantas que esperam o vento para poderem mexer folhas que viram e adivinharam o peito de um sorriso feliz.
são longos os dias que precedem as noites cansadas de esperar por uma luz mais fraca e azul de reflexos de um mar onde o verde da água limpa e transparente se mistura no castanho da terra revolta povoada por gente de dedos esguios como faziam crer os filmes de gente que vinha de outro lado.
não acreditam na natureza e fazem das palavras as mentiras que nunca viveram, não reflectem a fé nas máres nos olhos molhados pelo rubor de uma inspiração que já não existia há muito. e precipita-se a lua para dentro de um mar salgado pelas lágrimas de angústias e memórias que nunca trago nas horas amenas.
se a loucura fosse uma opção, escolhia-te já, para não sentir os dias de alvor seco e o restolho das searas que morreram do sol que abrasa decidido o campo onde vive ninguém.
gosto de música. e sei que se receiam orquestras gigantes de cordas, metais, sopros e tantos tantos tambores. ver da plateia... nunca... nunca... prefiro estar dentro e sentir a fúria de uma natureza estranha que canta em harmonia e com a violência de uma beleza atroz e arrepiante... nunca da plateia... prefiro aprender ou morrer a tentar perceber o que faz lindo um trapo composto de nada com cores que não vivem sozinhas sem a música que toca e assoma aos ouvidos de gente com medo dos estilhaços, parada ao longe, separada pelo fosso que os protege do avançar impiedoso das emoções para dentro das convicções do viver...
ouvem-se ao longe as cordas de um corpo que vibra de medo por não ter presente próximo... e o futuro foi já ali à frente e volta mais tarde em cacos ou peças pequenas de um puzzle de lamentos de felicidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao teu futuro parece faltar um objectivo. Um objectivo no qual foques essa megaenergia que pareces dissipar dia após dia.
Sem dúvida que para ti o futuro é hoje.
Talvez seja uma forma de viveres várias vidas numa só...

Anónimo disse...

e se te faltar o tempo para seres feliz? continuas a empenhar o teu presente?