quarta-feira, dezembro 21, 2005

small




os minutos escorrem pelo dia afora à espera do tempo de chegar ao fim.

e hoje ?...


Antes, entretíamos os dias com pouco de que fazíamos muito


antes, éramos beleza, graça e força de ser.



Já percorremos espaços impossíveis e caminhos difíceis


aventurámo-nos em terras e povos novos.


Já valorizámos a tranquilidade e contemplámos a calma


já quisemos até, de dois, fazer um, que acreditávamos diferente de tudo o resto.


Hoje, no fim dos dias, caídos ao lado dos outros que também jazem no nosso chão, relembramos com saudade as pérolas de memória que guardámos e queremos manter ainda, a tanto custo.

E fizeram por valer, mesmo, a pena ?...

terça-feira, dezembro 20, 2005

prisioneiros


E se o viver for feito assim?
E se a pressionarmos de dia, à custa de gotas de sangue nos vincos do aço frio que rasgam a pele das mãos?
E se forçarmos cada vez mais, na cadência das horas de sol que passam por nós?


E se não a soltarmos de noite?...


segunda-feira, dezembro 19, 2005

o mar do meu fim de semana



Ontem pensava: um dia hão-de acabar-se as páginas que tenho para escrever no livro das letras.

Hoje sei que não é possível ser assim. Geradas ou induzidas e, se for necessário, ditadas até. Terei sempre o que arremessar a um qualquer teclado que se apreste a receber o que lhe queira oferecer.

O fim de semana. Xiiiii.... tanta coisa.
Muita, ficará sempre por dizer, que eu nunca direi tudo o que penso ou sinto. Pelo menos, ao mesmo tempo e no mesmo lugar.
Sinto este sentir como se fosse um mar de água que vai enviando ondas para as praias da vida das gentes que passam pela vida da gente.
Aos poucos de cada vez.
Mas todos os dias há ondas a bater de encontro aos pés, enterrados nas minhas praias.

Há praias, como as da Arrábida, onde as ondas do meu mar calmo e tranquilo chegam devagar e fazem aquele barulho “tchuáá..” quando se espraiam na ponta da praia, junto ao mar. O mar da Arrábida parece uma piscina, seguro ou quase, e não tem um encanto particular per si: faz parte de uma paisagem de vida. Harmonioso.

Conheci também praias como a Caparica, cheias de gente. Carregadas de tanta gente.
A querer ir à praia.
Na Caparica o mar é generoso. Exibe-se com o que tem para mostrar: ondas, marés, e muita gente. É um mar orgulhoso e com vaidade, de ter tanta gente a querer estar.
Confesso que não sou, de todo, fã das praias da Caparica.
Não gosto de mar assim, de todos. Não gosto, fácil demais, onde todos entram e saem quando querem, sem consideração ou respeito pela água que tem.
Mar estúpido que pensa ser alvo de tanta atenção quando, afinal, é apenas usado e revirado, de dentro para fora, por aqueles que, depois de se servirem, lhe viram as costas com o prazer estampado no sorriso egoísta dos lábios entreabertos. Sem um adeus.
E as praias pactuam em tudo isto, como madames de um qualquer bordel.

Conheci, também, o mar da Comporta. E sabes, gostei do mar da comporta. É um mar elitista, o sacana, não há dúvida. Até as praias, não são muito fundas para não abrigarem as míriades de gente da Caparica.
E esconderam-se.
As praias da comporta esconderam-se para lá de Troia, colocando antes de si uma barreira de mosquitos assassinos.
Esconderam-se para lá do estuário do Tejo onde havia menos gente.
Esconderam-se, por fim, atrás de empreendimentos turísticos ao alcance de poucos.
E ali se deixaram ficar, com areia limpa e uma frente de mar carregada de conchas. É um mar que fala, este das praias da Comporta. E manda para as areias as notícias de si, em forma de um monte de esqueletos que guarda e cuida até não ser capaz de os segurar e ter que soltar um longo suspiro de espuma onde segura e entrega o que não pode mais esconder em si.
Este é um mar que recebe visitas distintas.
Como qualquer artista famoso, começou a chamar a si a atenção devida pela sua arte. Mais tarde, tornou-se moda. E hoje, apesar de continuar a pintar quadros geniais, é frequentado por aqueles que apenas pretendem dizer: Eu tenho este mar.

A posse substituiu a reverência e a admiração de um mar que merecia mais daqueles que hoje não lhe prestam já a homenagem devida. É um mar em sofrimento. À espera de resgate de gente que goste de mar. Eu gostei do mar e das praias da Comporta.

O mar mais famoso e coqueluche de todos os nossos mares é o mar do Algarve. É o José Castelo Branco dos nossos mares. Primeiro, tratou de ter uma temperatura amena que atraísse os locais e turístas, afoitos de conforto e bem estar. Tratou de licenciar, à parva, todas as construções possíveis e imaginárias, com ou sem respeito pela terra onde ficaram, para ter mais audiência.
A todo o custo, chamou a si tantos quantos pode.
E foram. Resmas de gente. Chusmas de gente. E as praias pactuaram com o mar para serem de areia fina e agradável. Não mais que um chulo, com as suas putas.
Mais tarde percebeu que tinha que dar o que fazer às pessoas, depois do mar e das praias. E criou uma série de bares e discotecas – perto de si, é claro de ver – para continuar a ter corpos despidos na areia da praia.
Gosto da água quente, mas não consigo gostar do Algarve. Honrosas excepções de praias e mares que se abrigaram atrás de arribas altas onde os preguiçosos não vão.
O mar e o as praias do Algarve também não me cativam por muito tempo.
Morre-se estúpido ao sol, a fazer companhia a lagartos e grãos de areia a escaldar.
E morrem as palavras e ofega-se pelo calor e perdem-se as conversas das gentes que correm para o mar para se arrefecerem.
Mar de quê? Paisagens do poente?
Mas, também eu sou fraco e pactuo com tudo isto quando quero água quente e hotéis fora do caribe. Vendido...

O mar da minha eleição é no centro do país.
O mar da minha vida é perto de Leiria.
O meu mar está em S. Pedro de Moel.
E, o mar de S. Pedro tem várias praias porque percebeu, há muito tempo, que há muitos tipos de gente que querem e merecem estar ao pé de um mar assim.
O mar de S. Pedro tem uma coisa deliciosa onde vivi as férias dos meus anos doces de criança, a que chamaram de praia da Concha.

Resgardada por escarpa arenosa, em forma de concha, não deixa o vento chegar à areia, com a frequência com que chega a outras praias; a praia da Concha foi construída pelo mar, para crianças de dia e amantes em fins de tarde.
Lá, o mar é rebelde e furioso.
Lá, o mar não faz compromisso.
Lá, o mar tem a natureza que lhe foi dada pelos Titãs gregos que criaram as coisas.

Lá, acreditava eu, quando era criança, morava Poseidon. Só podia ser ali, tal a violência da água, que atirava baleias contra a costa.

Armadilhado com um fundão gigante, só nos deixava tomar banho na maré alta. As ondas assumiram, no princípio dos tempos, o papel de escultoras de escarpas e ainda hoje se atiram com fúria contra as rochas que teimam em fazer-lhe frente na frente da praia.
Aprendi a tirar partido dos despojos desta guerra. Escondido atrás das rochas, esperava o embate da refrega, para tomar banho de chuveiro de ondas.
Orgulhoso, verdadeiro e sem compromissos, o mar de S. Pedro de Moel, na praia da Concha. Logo ao lado do farol, antes da extensão enorme de areia da praia Velha.
Serena e altiva, a praia Velha, também no mar de S. Pedro.

Entre uma e a outra praia estava encostada à falésia, mesmo, mesmo encostada à falésia, a casa do amigo António Campos. Com as janelas viradas para o mar e os salpicos de sal que se iam fundindo com a madeira das tábuas, era um sonho de lugar de sonho onde tão depressa se assistia a marés vivas, como a nasceres e pores de sol de fazer inveja a qualquer impressionista. E todos os anos fazia questão de nos convidar. E nós íamos. E fazíamos entre 5 a 6 horas de viagem sempre à espera de começar a cheirar o aroma dos pinheiros que denuncia o pinhal de Leiria, a quilómetros. Nesta viagem, as crianças não se impacientavam e a calma ia tomando conta de todos, à medida que nos afastávamos de Lisboa. Um dia, derrubaram as casas de praia, entre as praias. E, mais tarde, o António, concerteza saudoso da natureza feita arte, do alto das rochas, morreu também.

O meu mar fala de dia e de noite com voz alta e ribombar das ondas, para quem quiser ouvir. Fala devagar, o meu mar. E envia notícias pelas ondas às praias de que gosta e respeita.
Deixaram-se perder pelo mar e mandaram por terra o respeito pela força da natureza. Hoje, sangram-no com uma gula e avidez que dói a quem gosta. Do mar.

E ele, responde com a mesma avidez de destruição da gente que lhe quer mal.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

um dia

Apodrece em mim o que não vivo e vou ficar sem saber o que fazer com o que já não serve para absolutamente mais nada.

Um dia, os meus olhos vão deixar de observar e ver o que já escureceu. Um dia, ainda fico cego.

E se à beira da escarpa me soprar o aroma de verão? E se me atrairem as brisas suaves do inverno? E se a cor das folhas que caem passar pelos meus olhos fechados?

Sente-se ao longe a quietude que precede o que não se deseja. E o desassossego trepa-nos pelo peito acima. Perto daqui já não vive ninguém ao longo das estradas desertas de gentes vivas e de coisas mortas.

O sol aponta o caminho para debaixo do horizonte enquanto observa, triste, o esmorecer das últimas fábulas de La Fontaine.

Mas sabes,... já não há animais em nós. Matámo-los. De fome e de sede.

ups

houve aqui um piqueno mal-entendido.

Vou deixar de escrever... neste computador, porque vou mudar de emprego!

Sorry for the missunderstanding...

quinta-feira, dezembro 15, 2005

homenagem à alcateia


Será concerteza um dos últimos posts que escrevo neste teclado onde passei muitas horas.

Atirei-me a este trabalho com a entrega com que faço praticamente tudo a que me proponho. E não foi fácil.
Empurrei as horas dos dias até mais tarde, inflecti o comportamento tranquilo, de que mais gosto, e gastei as palavras todas que tinha deixado de reserva para dias de maior necessidade. E não foi fácil.
Sorri, e deixei de sorrir. Fiquei mais triste e depois passou. Fiquei zangado, irado até. E também passou. E não foi fácil.

E tinha gente diferente. Tinha uma alcateia de gente. Havia presas brancas que se viam reluzir de dia. Havia sangue na arena e aroma de conquistas. E não foi fácil.

Houve momentos sinceros. E outros nem tanto; a natureza não deixava, e a guerra não se compadecia de guerreiros fracos. E não foi fácil.
Houve confiança. Mas nem sempre. E não foi fácil.


Numa alcateia, ruge-se dentro, mas não se mordem. Guardam-se forças e ataca-se o resto do mundo em bando, com sede de morte e os dentes cerrados.
Isso, foi fácil.

E tive coisas boas. Senti alguns sucessos. Senti que estive pouco tempo, para... para o que gostaria.

Entreguei as palavras aos dias em que dormia fora. E gostei muito dessa parte dos resultados. Vendi os sonhos aos homens e às mulheres a quem queria trazer para vencer connosco. E não foram maus, os resultados.
Montei paliçadas e larguei o exército do eu sozinho, à caça de novas hostes para representar os sonhos que também lhes vendi. E gostei dos resultados.
E tive aqui, a solidariedade, inestimável, do resto da alcateia. E gostei ainda mais.
Senti a raça de ser e o orgulho de pertença. E gostei.
Senti o brio de ser de muitos e ter conquistas nossas. E gostei.

Partilhei 10 meses com gente a quem não posso deixar de prestar homenagem. Gente bem diferente. Todos. Gente bem diferente. De mim. E gente com quem não concordei sempre. Mal fora, seria sinal de falta de carácter, de uns ou de outros.

Saio para melhor, é certo. Matéria, responsabilidades, condições. Tudo bom, é certo. Mas não consigo sair contente.
Sabem, é que não se encontram alcateias em todos os bosques do viver...



E disso, vou ter saudades.

Das caçadas. E dos lobos.