Apodrece em mim o que não vivo e vou ficar sem saber o que fazer com o que já não serve para absolutamente mais nada.
Um dia, os meus olhos vão deixar de observar e ver o que já escureceu. Um dia, ainda fico cego.
E se à beira da escarpa me soprar o aroma de verão? E se me atrairem as brisas suaves do inverno? E se a cor das folhas que caem passar pelos meus olhos fechados?
Sente-se ao longe a quietude que precede o que não se deseja. E o desassossego trepa-nos pelo peito acima. Perto daqui já não vive ninguém ao longo das estradas desertas de gentes vivas e de coisas mortas.
O sol aponta o caminho para debaixo do horizonte enquanto observa, triste, o esmorecer das últimas fábulas de La Fontaine.
Mas sabes,... já não há animais em nós. Matámo-los. De fome e de sede.
2 comentários:
Só se for o teu. O meu continua vivo, cheio de fome e de sede de vida.
Assim como o tempo de escrever regressa. Haverá um dia que dentro de ti um embrião selvagem de qualquer animal, te tomará o pulso, quando menos esperares... e desenvolverá em 9 meses, ou mais ou menos, e quando deres por isso nasces de novo selvagem, primeiro para não ser de ninguém depois para estares de novo selvagem em todos, até te matarem, ou morreres, ou te matares, ou não, de novo. Eu desejo-te uma domesticação mas uma vez selvagem, sempre.
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