domingo, outubro 29, 2006

no name no number

sangrem o suor do rosto e arranquem a pele das mãos
mas vivam
estafem a alma a correr pelo corredor de dores que não conheciam
mas vivam
arranquem aos pulmões os gritos mais surdos que a voz aguentar
mas vivam
ouçam bater o coração descompassado cansado de rir e chorar
mas vivam
persigam sonhos impossíveis e agarrem as dificuldades à dentada
mas vivam

ousem, arrisquem, percam, ganhem, lutem, criem, derrubem, matem, perdoem, ou não e atirem para trás das costas o tempo que não vos acompanhar quando correrem como os loucos fariam pelas ravinas da vida abaixo.
e, se não sobreviverem, tiveram, ao menos, na boca algum sabor e a memória a escorrer pelos caninos assanhados enquanto o sangue se lhes injectava nos olhos perdidos de tanto não ver nada.
para muitos será um disparate, mas para os loucos será a única forma de viver e de morrer.

um dia, quando viver, vou querer morrer assim.

terça-feira, outubro 10, 2006

só volta quem pode sair


se agarrares o tempo à força verás que se debate tanto como o vento a quem não querem deixar sair de uma casa fechada.

é que não há melhores grilhões que a liberdade de ser independente e feliz.

porco espinho

se é verdade que começam devagar e com cuidado, estes loucos, com o passar do tempo, embarcam numa vertigem de saber e sentir onde só está quem teve o cuidado de experimentar e aprender.

conversar

é como abrir uma porta, é tão mais suave quanto menos força se fizer de cada lado.
haja apenas vontade de entrar.

segunda-feira, outubro 02, 2006

nascimento de um sentido novo

passou algum tempo e não me reconhecem já as letras de um novo teclado. e que falta me apercebo que me faz esta coisa de escrever!
com o tempo tomado até ao tutano e medula, sucumbi à preguiça de não me proporcionar um bom momento de escrita, assim ao jeito com que outros se proporcionam um bom momento de leitura. também se navega na imaginação e acorda-se em países e com gentes tão diferentes de onde partimos...


quando nos preenchem o tempo e nos enriquecem os sentidos, sejam os olhos, a boca ou o tacto, perdemo-nos para o sentido do re-sentir. e perdemo-nos porque lhe retiramos a importância que merece no nosso viver.
o re-sentir é tão ou mais importante do que os sentidos que nos impactam por fora. o re-sentir, ressoa por dentro os impactos mais superficiais dos nossos dias. do re-sentir fazem parte o saborear de uma água fresca e o invocar dos passeios na serra onde um dia nos debruçámos naquele riacho, porque tínhamos sede, faz parte o calor que invade a pele e nos amodorna o corpo e a alma e nos relembra a doce languidão de viver... fazem parte os aromas e as cores das flores que nos lembram gentes e sentimentos que nos encantaram a vida em tempos e nos ocupam o espaço que desejamos para o futuro.

o re-sentir é assim uma coisa incontornável para diferenciar as emocões que ecoam em viagens loucas, suaves, agressivas e doces dentro do peito.

e eu, quando escrevo, re-sinto a vida outra vez. agora, mais devagar apesar de, com mais sabor.