quinta-feira, maio 04, 2006

foggy times


E se o dormir for uma condenação de alheamento temporário, porque não merecemos contemplar o que quer que seja durante algum tempo?
…faz sentido?... não. But then again, é só mais uma loucura.
Ou talvez nem tanto.


O certo é que é insultuoso o tempo que se passa sem fazer nada e a aproveitar coisa nenhuma porque,… estamos a dormir.
É como se de um mau período da vida, se tratasse, que se repete todos os dias a partir da hora de deitar. Até os sonhos desempenham o seu papel alucinado e triste ou estupidamente feliz, por não fazer parte das coisas reais.
Como nos momentos maus, estamos num estado latente, onde a vida não avança, antes pelo contrário, e o melhor que se pode fazer é desejar que passe depressa. E que não nos pese o tempo morto.
E se o dormir for um pequeno vírus, muito virulento, muito peganhento, que se agarra a uma pessoa e lhe vai minando as defesas de viver com vontade, até se transformar numa qualquer lagarta que se arrasta pelas folhas da couve, quando ainda há poucos dias era uma borboleta de cores e asas de arrasar o mundo. Esta podia perfeitamente ser a gripe das aves dos tempos modernos. A involução das gentes, para dentro dos casulos para perto de onde nunca deveriam ter voltado. De fácil mutação e propagação mortal entre os humanos. Os que sobrevivam, ficaram tolos demais para atirar um sorriso ao futuro que se foi embora na camioneta das 5.

Já fomos heróis das nossas próprias vidas, num ou noutros dias mais felizes mas hoje assistimos ao despertar de crisálidas que nunca vão ganhar o céu do sol, e da chuva e das estrelas, e das trovoadas e das auroras boreais e dos perigos e belezas da natureza, porque algures no tempo, optaram por começar a viver paradas nas couves e ervas de que se alimentavam de forma fácil e sem esforço. Enquanto engordavam, acomodadas à abundância e ao sabor do que não tinham que ganhar, foram dormindo umas sestas na hora do calor, para passar melhor o tempo até chegar hora de comer outra vez. Deixaram de procurar variar e levar os olhos até mais longe do que aquele caule incrustado de calos rugosos, com quem se começaram a identificar e a fazer parte da família… daquela gente só e triste que se preocupa com o que está perto e já não olha para os dias. É como se fossem noites sem qualquer luz e respirar sem oxigénio nos pulmões.
A fuligem da chaminé por onde ressonam ribomba no peito de quem não tem a natureza apodrecida pela preguiça e pela porcaria de não ter outra elegância além de um qualquer cobertor que lhes tapa as orelhas frias.

O gelo, que sobrevive e cresce na inactividade, agradece, e convida a ficar… e dormir mais um pouco.

Já agora… talvez não valha a pena acordar. Why bother?

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