"the past is like a different country; they do it differently, there" Charles Dickens
de tudo podes retirar ânimo, como só algumas pessoas sabem.
não sabem que têm dentro, essa facilidade de viver, mas nota-se bem, sempre que os ouvimos reivindicar a justiça das coisas ou o riso indiscreto que atravessa as ruas da vida dos outros.
minha querida, tens, como poucos, quem te queira mais do que bem, perto de ti.
tens também, como poucos, quem possa abdicar de parte do seu bem estar, pelo teu.
queixas-te de quê?... eu sei...
da vida não ser perfeita... e fazes isso porque és romântica e fadista até ao tutano dos teus ossos.
é por isso que vais perseguindo estas quimeras malucas que sabes (sim, tu sabes, logo à partida) que têm tudo para correr mal.
mas tu optas por saborear a adrenalina das coisas que não podem ser, e trincar o freio nos dentes, para poderes ir para qualquer parte.
és mesmo assim.
e, quando negares esta natureza, deixas de ser tu, e passas a ser outra coisa qualquer.
mais desinteressante, concerteza.
portanto, a pergunta que parece pedir resposta, e que a tantos vejo querer responder, é:
o que raio devo fazer eu à minha vida? como evito isto, de que sofro, no futuro?
e a resposta, para mim, é fácil.
eu discordo de todos os que te dizem "não vás por aí". apetece-me lembrar-te alguns excertos de um poema do José Régio
...
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos....
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao Mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue e cânticos nos lábios...
...
Tu és assim, xuxu, como gosto de te chamar às vezes. tu precisas que os teus dias sejam preenchidos pelo arrebatamento de viver.
a, praticamente, qualquer preço.
um preço de que nunca te lembras, nos princípios (outro poema lindo...).
atiras a cabeça para trás e avanças a correr para dentro do que todos os outros te dizem serem abismos indiscritíveis.
O que é que eu acho? Acho que essa é a tua, muito tua, forma de viver feliz. e não deves procurar o que não te satisfaz, a perseguir uma qualquer ideia de felicidade serena...
Se a encontrares, a felicidade, esse mito urbano, vai ser no meio das refregas que travas nos teus dias loucos e com esse sabor que adoras. E, sem o qual não consegues viver.
Não deves, nem podes viver de outra forma.
"mas que merda que é, sofrer assim! não quero este penar tão grande, tantas vezes na minha vida" podes dizer-me, como se estivesses zangada comigo.
e eu terei que te lembrar que esse, é o privilégio de quem saboreia mais e vive com mais calor, a vida que, para a esmagadora maioria, não passa de um inverno permanente.
daqui a duas semanas, isto que sentes hoje, será um passado guardado já com uma dimensão muito menor...
e estarás já lançada numa outra qualquer loucura que te vai preencher o pensar e rasgar sorrisos nos lábios!
e eu vou estar lá também. a rir-me contigo.
2 comentários:
Hoje, sábado, o dia mais odiado, janto como sempre numa rua estreitinha de alcântara. Com os amigos que me esmagam as mamas com abraços, quando dei mais um valente trambolhão e, entre abraços, sou tal e qual a minha filha: ainda não decidi se choro, ou se me levanto, sacudindo a areia dos joelhos esfolados e se vou voltar a ir para o recreio brincar.
Gostei muito (sobretudo da brincadeira subliminar das maiúsculas). Obrigada.
Soberba, esta especial maneira que tens para fazer as coisas parecerem o que realmente são: um passagem para qualquer outra loucura, uma aprendizagem e um soltar de emoções que não se podem deixar de sentir.
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