domingo, novembro 06, 2005

desenterrado

não costumo meter as mãos nos bolsos mas, hoje, encontrei um caderno antigo num blusão que me ofereceu o meu irmão.
uma coisa com umas folhas muito pequenas e com uma caneta promocional de um laboratório farmacêutico, que me ofereceram.
aliás, confesso que adoro prendas. mesmo estas mariquices que depois acabam por se revelar, algumas delas, de muito pouca utilidade.

nas primeiras folhas, estavam os preço de frigoríficos e máquinas de lavar. vários modelos em várias lojas... restos de uma guerra do princípio do ano, quando me mudei para a minha casa.

a surpresa veio depois, na terceira ou quarta folha. era a minha letra, claramente. mas muitíííííssimo torta! tão inclinada e inconstante que só havia uma conclusão a tirar: grosso, muito grosso.
foram coisas escritas numa das noites em que saí sozinho, para os bares, à procura da minha amiga russa e de umas músicas para ir entretendo os últimos minutos de sobriedade do dia.
cheguei a escrever no portátil, que abri na mesa do bar, enquanto, à volta, os grupos de amigos, ou só conhecidos, se entretiam a rir de tudo e mais alguma coisa, enquanto atiravam o seu melhor charme para cima uns das outras. e vice-versa e what-so-ever.
lembro-me de ter escrito também em papéis que apanhava à mão. e, pelo vistos, apesar de não me lembrar, escrevi também neste bloco.

lúgubre, como a maioria do que escrevo, e a totalidade do meu pensamento, na época.

"O semblante estava carregado
como as nuvens
nos céus cinzentos de Dezembro.

Lembrei-me do sol
quando rasga o céu
e espalha a luz através dos dias escuros
enquanto anuncia a descida dos anjos.

Foi assim.
Só não foi comigo.

Foda-se a vida e quem lá anda dentro."

Pode haver alguma palavra que não era exactamente assim, no original. Mas foi difícil decifrar o manuscrito.
Pós Stolichnaya. Claramente.

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