quinta-feira, fevereiro 10, 2011

sons ao ouvido



há músicas absolutamente loucas
de tão furiosas que nos assaltam
e tão dependentes que nos deixam

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

OUTRO TEMPO

Nem parece ter sido há tanto tempo de tão recente que sinto…
Era também uma tarde fria e um dia triste acompanhado de música que fazia esquecer o tempo que não me apetecia viver, apenas porque me distraia e levantava os sentires mais alto que a tristeza que teimava em espelhar-se-me nos olhos atrás de sonhos que chegavam varridos pelo vento frio.


O sangue corria mais quente que o gelo que fazia no mundo e deixava adivinhar um peito louco com a memória do toque que teimava em fazer-se presente.
Aquela doce e leda madrugada, como dizia o poeta…
E o tempo que não parava de correr enquanto os meus olhos teimavam em olhar para baixo, para agora, com medo de ver ou adivinhar um futuro, que na humanidade, inclui praticamente sempre sofrimento. O próprio, tão mais fácil de levar e digerir pelo tão pouco que merecemos, em sede própria, mas havia também o alheio que se arrasta pela vida atrás de nós com os grilhões presos e sem espaço para, na mesma canela, ir amassando a carne, e desfazendo os ossos que teimaram em manter-se vivos depois dos dias duros de inverno.


A culpa era dos anos. E do tempo e do espaço que correu pela minha vida enquanto me ia sentindo mais impotente para travar a descida ou fazer força, sequer, nas subidas em que me atrevi a caminhar.
Seja o que o futuro quiser. E olhei para os pés com medo de levantar os olhos e perder de vista os grilhões naquele sentimento estúpido de que não mereço mais do o que fui semeando no correr dos dias.


Lembro-me do som dos lábios enquanto deslizavam suaves a adivinhar o meu toque e a pele que reagia debaixo dos meus dedos enquanto sentia o quão pesado e descompassada estava a respiração que lhe aquecia o pescoço.
Este era o tempo dos olhos verdes como peixes, limpo e claro como só a arte sabe fazer quando imita algumas vidas. Este era o tempo que deixava rasto no ar pela cor dos teus aromas que não me largavam os lábios.
Esta podia também ser a história de qualquer alma que tivesse estado apaixonada e ridícula como o são todas as cartas de amor, como dizia outra Pessoa.