quinta-feira, abril 21, 2005
another no name
o início de um dia precede sempre o cair de uma noite;
a angústia de sonhar é amenizada pelo ofuscar entorpecedor da claridade.
no name
quem tem alma não consegue evitar a elevação da fúria de viver,
quem não tem, vai sobrevivendo ao longo do percurso incessante dos segundos.
segunda-feira, abril 18, 2005
memória
olhos redondos, grandes, e claros.
uma boca definida, delineada, linda.
a promessa de um beijo a cada movimento dos lábios que se abrem e fecham num movimento acompanhado de sons que nem ouço, de tão inebriado que estou na promessa do que pode sentir e fazer sentir aquela boca.
nos dedos vejo as memórias de viriato e o desejo louco dos celtas que, nos solstícios, viviam a explosão dos corpos como quem não vai ter amanhã. aliás, o desejo devia nascer e perdurar sempre assim: como se não houvesse amanhã.
imagino a pele macia a deslizar nos meus dedos e sonho com o mar que se atira como um louco contra as escarpas da encosta rochosa que observa o verde das ondas que vão e vêm... vão e vêm.
dizem que são constantes, mas não pode ser: se são femininas, as ondas só podem ser absolutamente loucas.
ora serenas, no mar calmo, ora distantes na maré baixa, ou revoltas e absolutamente possuídas nas marés vivas quando nos invadem o espaço de ser e respirar e se atiram com a violência absolutamente inocente e despudorada, contra a encosta rochosa... que já não vive sem o sal do mar.
toda a gente sabe que não há o que resista contra a fúria do querer do mar. mais tarde ou mais cedo, a encosta vê cumprido o seu desejo mais íntimo e, num embate da mesma onda que a fustiga e chama diariamente, as rochas quebram as amarras que as prendem à terra e deixam-se levar...lançam-se ao mar para se afogarem nas ondas verdes...
que delícia, assistir à angústia da encosta que perdeu parte de si e ao extâse da mesma encosta quando ganha parte do mar.
uma boca definida, delineada, linda.
a promessa de um beijo a cada movimento dos lábios que se abrem e fecham num movimento acompanhado de sons que nem ouço, de tão inebriado que estou na promessa do que pode sentir e fazer sentir aquela boca.
nos dedos vejo as memórias de viriato e o desejo louco dos celtas que, nos solstícios, viviam a explosão dos corpos como quem não vai ter amanhã. aliás, o desejo devia nascer e perdurar sempre assim: como se não houvesse amanhã.
imagino a pele macia a deslizar nos meus dedos e sonho com o mar que se atira como um louco contra as escarpas da encosta rochosa que observa o verde das ondas que vão e vêm... vão e vêm.
dizem que são constantes, mas não pode ser: se são femininas, as ondas só podem ser absolutamente loucas.
ora serenas, no mar calmo, ora distantes na maré baixa, ou revoltas e absolutamente possuídas nas marés vivas quando nos invadem o espaço de ser e respirar e se atiram com a violência absolutamente inocente e despudorada, contra a encosta rochosa... que já não vive sem o sal do mar.
toda a gente sabe que não há o que resista contra a fúria do querer do mar. mais tarde ou mais cedo, a encosta vê cumprido o seu desejo mais íntimo e, num embate da mesma onda que a fustiga e chama diariamente, as rochas quebram as amarras que as prendem à terra e deixam-se levar...lançam-se ao mar para se afogarem nas ondas verdes...
que delícia, assistir à angústia da encosta que perdeu parte de si e ao extâse da mesma encosta quando ganha parte do mar.
comoveu-me
hoje. Não uma, mas várias coisas.
Comoveram-me as madeixas de um cabelo que já não lembrava assim...
E mais coisas.
Comoveram-me as madeixas de um cabelo que já não lembrava assim...
E mais coisas.
domingo, abril 17, 2005
receio
é verdade aquilo de que me acusa a consciência: tenho tido receio de escrever no meu blog.
Dantes escreviam-se cartas onde a caligrafia era apurada e fazia parte de um ritual delicioso, onde o lamber de um selo era apenas um dos passos importantes em direcção ao culminar desse empreendimento místico que era o escrever.
À medida que fomos utilizando o email, passámos a banalizar o exercício de escrever, perdendo a solenidade que muito menos se encontra nos sms que freneticamente digitamos nos telemóveis. Podem dizer que evoluímos, mas eu digo-vos que ficámos orfãos. Orfãos de mais uma tradição e mais um encanto que era abordado com cuidado e reverência. Ganhámos mais uma forma fácil de escrever e, sobretudo, mais uma forma fácil de não escrever aquilo que antes valia a pena colocar nas folhas de papel: quem escrevia, fazia por que valesse a pena.
Apesar de o utilizar à pouco tempo, apercebo-me de que o meu blog passou a ocupar o espaço e a disponibilidade mental que antes reservavam às cartas. Se eu tivesse um amor distante, era precisamente isto que faria: falava-lhe de mim, das coisas boas e más, das preocupações e felicidades. Partilharia aquilo que me enterneceu, entristeceu ou apenas a cópia de um poema que testemunhou o bater do meu coração.
O(s) blog(s) preencheu a vida dos que ansiavam por enviar cartas que fossem preenchidas de letras redigidas com cuidado num papel que dobrariam antes de depositar a esperança de ser lido, num envelope que seria endereçado para quem esperaria com ansiedade e leria com gosto o que tínhamos escrito.
Hoje, escrevo no blog. Mas fico triste ao pensar que deveria estar a escrever para alguém e não para um espaço virtual num qualquer servidor da internet. Hoje continuamos a lançar para as letras o que nos comove, sem que tenhamos depois para onde lançar as letras. Apenas para o blog? Porque terei (teremos) deixado de enviar tudo isto para alguém em particular?
Alguém me disse, não há muito tempo: "Seria incapaz de escrever num blog e deixar para os olhos de todos aquilo que sinto ou penso, quando vivo. Fica devassada a vida de quem escreve num sítio público. Ainda para mais, podendo ser comentado por quem quiser, sem necessidade de identificação."
Pensei para mim que gosto de ver, ainda que a coberto do anonimato, algumas pessoas escreverem o que sentem ou vivem, em resposta ao que outros sentiram ou viveram.
Sonho com o dia em que possa despertar em alguém o gosto por olhar para dentro de si e descobrir a imensidão de espaço preenchido de coisas boas de que nem se tinha ainda apercebido que existiam. Sonho que, a seguir, poderá existir a vontade de falar ou escrever, e discutir e partilhar com o mundo as coisas que rasgam a barreira do ordinário, superficial e banal.
Sonhas alto, não é? Mas também... o que fazes depois às enchentes que possam nascer das gotas quentes que poderás espalhar?
"Alicia vive" - pingos de chuva nas teclas do piano e, também por isso, tenho tido receio de escrever...
Dantes escreviam-se cartas onde a caligrafia era apurada e fazia parte de um ritual delicioso, onde o lamber de um selo era apenas um dos passos importantes em direcção ao culminar desse empreendimento místico que era o escrever.
À medida que fomos utilizando o email, passámos a banalizar o exercício de escrever, perdendo a solenidade que muito menos se encontra nos sms que freneticamente digitamos nos telemóveis. Podem dizer que evoluímos, mas eu digo-vos que ficámos orfãos. Orfãos de mais uma tradição e mais um encanto que era abordado com cuidado e reverência. Ganhámos mais uma forma fácil de escrever e, sobretudo, mais uma forma fácil de não escrever aquilo que antes valia a pena colocar nas folhas de papel: quem escrevia, fazia por que valesse a pena.
Apesar de o utilizar à pouco tempo, apercebo-me de que o meu blog passou a ocupar o espaço e a disponibilidade mental que antes reservavam às cartas. Se eu tivesse um amor distante, era precisamente isto que faria: falava-lhe de mim, das coisas boas e más, das preocupações e felicidades. Partilharia aquilo que me enterneceu, entristeceu ou apenas a cópia de um poema que testemunhou o bater do meu coração.
O(s) blog(s) preencheu a vida dos que ansiavam por enviar cartas que fossem preenchidas de letras redigidas com cuidado num papel que dobrariam antes de depositar a esperança de ser lido, num envelope que seria endereçado para quem esperaria com ansiedade e leria com gosto o que tínhamos escrito.
Hoje, escrevo no blog. Mas fico triste ao pensar que deveria estar a escrever para alguém e não para um espaço virtual num qualquer servidor da internet. Hoje continuamos a lançar para as letras o que nos comove, sem que tenhamos depois para onde lançar as letras. Apenas para o blog? Porque terei (teremos) deixado de enviar tudo isto para alguém em particular?
Alguém me disse, não há muito tempo: "Seria incapaz de escrever num blog e deixar para os olhos de todos aquilo que sinto ou penso, quando vivo. Fica devassada a vida de quem escreve num sítio público. Ainda para mais, podendo ser comentado por quem quiser, sem necessidade de identificação."
Pensei para mim que gosto de ver, ainda que a coberto do anonimato, algumas pessoas escreverem o que sentem ou vivem, em resposta ao que outros sentiram ou viveram.
Sonho com o dia em que possa despertar em alguém o gosto por olhar para dentro de si e descobrir a imensidão de espaço preenchido de coisas boas de que nem se tinha ainda apercebido que existiam. Sonho que, a seguir, poderá existir a vontade de falar ou escrever, e discutir e partilhar com o mundo as coisas que rasgam a barreira do ordinário, superficial e banal.
Sonhas alto, não é? Mas também... o que fazes depois às enchentes que possam nascer das gotas quentes que poderás espalhar?
"Alicia vive" - pingos de chuva nas teclas do piano e, também por isso, tenho tido receio de escrever...
saudade
se atravessarmos o deserto de almas que viajam nos dias que passam, um a um, não podemos evitar a alegria de ver algumas que arrancam pedaços de mediocridade ao mundo para lutar por melhor.
tenho duas crianças assim e sou feliz por isso. de cada vez que os vejo, ou apenas penso neles, fico com a sensação de que já deixei uma pequenita contribuição ao mundo.
Obrigado Nina, obrigado Caganito, por serem duas almas que preenchem o tempo e o espaço de dois gigantes.
daqui a alguns dias talvez vos (re)conte um pouco mais do que significa para mim a vossa existência.
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