quinta-feira, agosto 18, 2005

gentil e tão triste

Perdi o chão que pisei ontem
E nos tempos de mais atrás.
Perdi também o vazio
Onde escorregava
O meu orgulho altivo.

Os buracos que enchiam o nada dos meus dias
Foram ficando mais pequenos
Diminuindo a vontade
De não fazer coisíssima nenhuma.

Foram tempos felizes, esses.
Eram dias amenos,
De vida tão serena e suave
Como os lábios finíssimos
Que se enchiam de carne
Para me beijar.

Avancei e recuei tantas vezes,
E nem vi que, no caminho,
Perdi o teu sorriso aberto
Com os teus olhos semicerrados
De tanta força fazerem
para não deixarem fugir
a alegria que sentias.

Invejava-te a leveza
E apoquentava-me o peso do tempo
que inventei, e que, de tanto repetir para mim,
acabei por acreditar que era o meu.
E prendi as mãos aos pés.

Tenho passado o resto da vida,
a tentar separar os membros
que, por acidente, juntei no teu tempo
e não voltei a sentir separados.

Adorava poder oferecer-te de novo
Buracos enormes
Cheios de coisíssima nenhuma
Com a leveza da felicidade
Que tanto gostava de sentir em ti.

Até sempre.

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