quinta-feira, outubro 20, 2005

canibais


Pedi uma, duas e três e mais e muito mais vezes, para poder ter o que sonho ser possível e vejo ser dado ao mundo.

Também quero, dizia eu. Também me sinto no direito de pedir. E ter.

Mas peço baixinho. Não sinto a coragem, nem me julgo com a autoridade para mandar. Então, peço.

Peço baixinho para que só me ouça quem está com atenção ou, quem de direito, com os ouvidos afinados na nota e no tom certos.

Onde andam? Que não vejo mais quem tenha a disponibilidade, disposição e vontade ou até a tolerância, para ouvir.
Não será uma tolice fazer e agir ou interagir sem saber quem é, quem nos fala?
Podemos sair pela porta da intolerância e prepotência, afirmando a nossa recusa consciente em ouvir. Ou, podemos manter o caminho egoísta há muito traçado – é sempre uma coisa antiga – e continuar a avançar pela direcção e sentido que melhor nos apraz, sem perceber se prejudicamos, beneficiamos ou até chocamos com outros que, como nós, avançam indiferentes ao que os rodeia.

Esta é uma indiferença aflitiva. É talvez a marca maior do tempo em que estamos.
As gentes, em oposição à opressão com que foram brindadas no passado, por um lado, e alinhadas com o culto da indolência, por outro, têm-se preocupado em...nada.
Pois. Nada.

E ninguém percebe que é contra natura.

Não é um sinal de carácter, nem de personalidades fortes, é um sinal objectivo e declarado, de estupidez crassa.

A beleza das rosas não sobressai, nem sobrevive à custa de outras flores, e as sequóias gigantes não deixam de contribuir para o ecossistema que, pleno de vida e pujante de força, se vai desenvolvendo a mais de 30 metros abaixo.
Os gigantes da natureza aprenderam, há muitos anos, que não podem sobreviver nem sozinhos, nem em desarmonia com o que os rodeia.

E nós, povo estúpido, quando vamos aprender que não podemos viver a direito, sem ponderar na balança do que fazemos, os sentires dos outros?

O sucesso irá ser entregue aos elementos que, da espécie, melhor interajam com toda a natureza que os rodeia.

Sem contribuir para equilíbrio, somos nós que ficamos à beira da extinção.
Por canibalismo.

1 comentário:

Mary Lamb disse...

Só li metade do post, mas vou comentar só para dizer que eu ainda continuo disponível para ouvir. Gosto e sei fazê-lo. Estou ás ordens.