segunda-feira, outubro 17, 2005

I feel a post comming. Vou pari-lo. Até já.


Não, não é mais um anúncio idiota da nova TMN, aliás tmn -em minúsculas, para ficarem mais trendy e próximo do povo- era o que eu dizia, campanha idiota. Foi apenas a forma como me despedi, antes de vir escrever.

Aparte o intróito, a verdade é que o alinhamento astral me faz voltar às letras e ao discurso sinistro, como lhe chama a minha amiga. Humm,... uma, não. Várias. Ok,... praticamente todas as pessoas que lêem o que escrevo.

A chegada da chuva serviu de enquadramento à disposição do costume. A música e a vida trataram do resto – os acordes entraram como uma empresa de catering profissional que distribui canapés pelas disposições, temores e desalegrias, enquanto os dias recitavam a poesia triste do mundo dos poetas andaluzes bucólicos.
Um sonho digno de Luis Buñuel, em cenários de Dali.
Os actores seriam pessoas normais, medíocres, claro, mas felizes, na ordinarice dos dias correntes.

Por tristeza e por dias ordinários e extraordinários, lembro-me que alguém me perguntou se a minha boa disposição não seria um exercício falso. Se não seria um disfarce ridículo face à disposição que parecem traduzir as letras que escrevo...
Intrigou-me, a pergunta. Achei mesmo uma pergunta brilhante. A surpresa de alguém querer tentar saber os porquês e os quês das coisas, é sempre um achado. O desassossego e a inquietude não se curam só com uma ida à casa de banho ou com um pirafo bem dado. A alma tem que ser alimentada, senão definha e morremos estúpidos... como escrevi em tempos...

Mas, voltando à pergunta que me fizeram. A resposta ultrapassou o momento de admiração e saiu disparada pela pista da razão.

Em boa verdade, o estado de tristeza é um estado presente. É como uma malha, matriz de fundo, que entreteceu o tempo à volta do espaço disponível e criou a plataforma de sustentação de mim. É verdade. Em fundo, em verdade, sinto-me triste.
Não é deprimido, não é doente, não é incompatível com a tranquilidade mas, sinto-me triste e o semblante, quando está só, não tem brilho. Não me retira o pensar, não me diminui a dedução nem o sentir. Especialmente, o sentir.
Em resumo, o meu fundo é de cor triste e aroma sombrio. E pronto.

A pergunta, no entanto, ia mais longe. Queria saber que alegria era esta que aparecia de quando em quando e, se era genuína ou fabricada para a ocasião.
É bem genuína, respondi eu, mas é gerada pela ocasião, pelas pessoas ou pelos estares e sentires. E como funciona uma coisa destas, aparentemente contraditória?
Curiosamente, o processo é simples.

Na base escura, começa a ser tecida uma nova malha, uma nova tela, que não se consegue colar à anterior, nem substituí-la.
Mas cresce, sobreposta, até tapar a influência da cor mais baça que vai ficando enterrada debaixo desta nova construção. À medida que se vai estendendo a influência e o enquadramento, assim vai ganhando altura e estrutura, esta nova Torre de Pisa.
Infelizmente, não consegue retirar da sua natureza, a volatilidade. Não é mais do que uma presença efémera que depende, por vezes, da vontade do construtor, enquanto noutras, reflecte a luminosidade de uma qualquer estrela que passa mais perto.
Assim que é desligado o quadro geral da vontade ou pressão que, de fora, mantém activa a força de querer, todo o planeta regressa à penumbra original. A temperatura dos corpos vai descendo até ao gelo glacial do inverno ártico e a luz abandona à sua sorte, o ecossistema que, sozinho, vai definhando até ao ponto original de que partiu.

Varia, a duração dos efeitos. É invariável, o ponto de chegada.
A vida nasce e morre, de cada vez que nascem e morrem os dias.

Talvez, por isso, goste tanto de estar acordado de noite. Sem ilusões.

1 comentário:

Mary Lamb disse...

Eu adorei este discurso sinistro. E quando a tua alma começar a ser alimentada, só tens que estar preparado para digerir o que te é oferecido. Ou atento para ver o alimento mesmo aí ao lado. Não é preciso dormir para se sonhar.