segunda-feira, julho 17, 2006
quem escreve?...
ler, é um exercício activo onde o nosso imaginário é despertado por aquilo que lhe é sugerido pelas letras e palavras de quem escreveu. escrever, também é um exercício activo, mas implica a criação. implica virar para dentro os olhos ou para fora os sentidos e cheirar o ar enquanto se processam os sentimentos, as opiniões e os desfechos mais ou menos rápidos sobre o que quer que seja.
escrever implica gostar do desafio de desafiar os olhos a lerem as palavras que vão saindo mais ou menos conscientes e premeditadas. ou não.
mas saem coisas.
ganham vida os pensamentos ou tão só os sentires vadios e encaram o mundo de frente e depois, viram-se para nós.
e olham-nos de frente e enfrentam-nos.
e não temos como escapar. germinaram e foram paridos. e agora temos que lidar com eles.
escrever pede que se tenha a coragem de falar com o próprio, ou com um deles... e aceitar a loucura como uma parte de nós, a ponto de, se calhar, podermos dizer que loucos são os que não falam sozinhos.
e a curiosidade existe, naturalmente, entre quem escreve. "este ou esta - pensa-se - é um louco cá dos meus. e encara os espíritos da noite em que se abrigam os normais".
tanto também não, que é exagero, mas uma coisa é certa: existe por vezes uma certa deferência pela coragem de escrever. entre os que escrevem.
e achamos-lhe graça e alimentam-nos a curiosidade, quase todos os dias.
quinta-feira, julho 13, 2006
assalto aos sonhos
hoje sonhei.
tomaram-me de assalto os pensamentos que tenho guardado dentro de mim, sobre as pessoas de quem gosto.
o ritmo de vida alucinado para onde me arrasta o trabalho, tem-me impedido de pensar nos meus amigos. não que eles precisem, mas eu é que sinto falta. sabem como é, quando faltam bocadinhos do nosso ser, que foram entregues, sem querer, a pessoas de quem gostamos?
é verdade. os meus amigos preenchem-me e muitas vezes completam-me.
dizia eu, noutro dia, que o aumento do número de pessoas que recorre aos psicólogos só existe porque se perdeu o tempo e o hábito de falar. com os amigos. porque aos outros não ouvimos da mesma maneira nem lhes damos os créditos suficientes para considerar o que dizem. se juntarmos a isto o stress diário crescente e a procura louca de satisfação rápida (pois se temos menos tempo… é tão fácil de compreender… já aceitar…), chegamos à conclusão de que o desporto "conversa" tem perdido adeptos.
e não me venham falar no messenger ou outros que tais porque aí, fala-se mais devagar, e não temos o corpo e o sorriso e os olhos e as mãos a fazerem parte da amena cavaqueira.
é, claramente, uma espécie em vias de extinção, a conversa com os amigos sem hora marcada e fim anunciado.
mas isto veio só em atalho de foice, porque me lembrei que adoro, uma coisa de paixão, mesmo, o conversar e ver falar as pessoas de quem gosto. até as outras, mas sobretudo as pessoas de quem gosto. e também eu, tenho afundado nas areias movediças do enredo work, work, work. bom, se calhar ainda vou a tempo. de conversar muito.
sinto a falta da malta amiga.
o que me trouxe ao estirador das letras foi outra coisa, que pensei acerca desta gente que conheço. apanhou-me de assalto, quase ao acordar:
"se não lhe deres o espaço e o tempo necessário para que sinta a tua falta, ela vai fazer-te sentir, mais tarde ou mais cedo, a impaciência da saturação". dramático.
agora escrito na primeira pessoa: "se não te der o espaço e o tempo necessário para poderes sentir a minha falta, vais-me fazer sentir, mais tarde ou mais cedo, a impaciência da tua saturação".
confesso que até arrepia. não é um pensamento novo, mas levanta pelo lá atrás, na nuca.
caramba, que o jogo de viver, é uma delícia! mas não é brinquedo.
este chega e empurra que fazemos diariamente, este vem cá que és minha, num dia e que chata que tu és, no outro, parece coisa de loucos. só não é um jogo. o jogo de viver é para ser jogado de intuição e sorte e uma pitada de bom senso, com algumas, poucas ocasiões de bom senso, frieza, e até alguma manipulação dos acontecimentos.
a gaita está na subversão destes equilíbrios.
senhores e senhoras, é a nossa natureza que tem que imperar, é a tal intuição que comanda as relações entre as gentes. os apontamentos de raciocínio têm que ser marginais, apenas para inserir um novo código de programação no nosso comportamento ou atitude, mas se o código não pegar com algumas (poucas) tentativas, é porque o sistema não o aceitou. e aí, meus amigos, é porque não é compatível com a natureza. e tem que se rejeitar o código e assumir que não vamos ser assim ou assado porque o outro gosta, ou fazer desta maneira ou daquela porque o/a deixa mais contente. ou entra no sistema, ou então esqueçam.
e ninguém fica mais pobre por ser genuíno. evolução não quer dizer o mesmo para toda a gente e nem sequer é vantagem obrigatória.
ser feliz é, muitas vezes, mais simples para uns do que os outros pintam. e não temos todos que andar em carneirada a subir o mesmo monte, a comer as mesmas ervas do caminho.
pode ser que sim ou que não, e valemos o mesmo.
mas despistei-me outra vez. aquela frase arrepia de tão verdadeira. deve ser isto a que os ingleses se referem quando dizem: “i just had an epiphany” (… se é que isto se escreve assim…) eu acho que é assim parecido com fazer festas a um gato. já experimentaram?
a um gato ou gata, fazem-se festas devagar, começam por se fazer festas devagar. e vamos esperando até que o bicho se entusiasme e peça mais festas e aí, podemos ser mais intensos, que o bicho deixa. e se ele se mandar contra as nossas pernas com marradinhas, é porque a coisa está ganha. podemos continuar e até, com sorte virá-lo ao contrário.
só não lhe podemos apertar o pescoço.
se apertarmos o pescoço a um gato ele vai-se assanhar. vai soprar e tentar morder e se o tentarmos manter preso contra a vontade, vamos comprar uma briga que só sabe quem já tentou; o bicho esperneia e arranha e contorce-se até que nos consiga magoar o suficiente para o soltarmos ou, se formos imunes à dor, podemos continuar com ele nas mãos, segurando-o cada vez com mais força.
e matamos o gato.
não o deixamos fugir, mas morto, também tem pouca graça, certo?
a ausência de vida, diria eu, não tem mesmo graça nenhuma.
outra coisa interessante que pode acontecer com os gatos, quando tentarmos fazer-lhes festas, é o bicho dar-nos uma valente “esnobadela”, virar as costas e ir à vida dele. não tentem ir a correr atrás, porque gato foge e corre depressa. e se o apanharem, voltamos à tal cena da briga, com final infeliz, either way.
esperem que o sol se ponha, nasça outra vez e cruzem-se com ele assim como que por acaso e deixem-no vir ter connosco. e, se ele estiver para aí virado, invistam outra vez.
uma nota final de esperança: apesar de independente, o bicho gato afeiçoa-se a determinadas pessoas a quem se chega, com vontade, e até com saudades. se o/a deixarem ter tempo para ter saudades.
quinta-feira, julho 06, 2006
que maravilha
Lições de vida
"Meu amor, vou ensinar-te uma coisa: Pede. Não digas tenho sede quando queres um copo de água".
tão verdade, e tão simples.
por favor mundo, desliga o complicómetro e faz-te feliz.