segunda-feira, agosto 07, 2006
como é que se pode
não ser um apreciador da natureza?
esta foto (e todas as outras, salvo indicação em contrário) não foi tirada por mim.
mas tinha que vir para aqui.
por todas as razões e mais uma.
e mai nada.
espiral
5 de Julho 2001 - era de noite
disse Camões:
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se duma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas.
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se duma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas.
quinta-feira, agosto 03, 2006
paleta de viver
"sou capaz do melhor e do pior" dizia alguém atravessado num vão de vida debaixo de um degrau de madeira podre sustentado apenas pelo cuspo das formigas que o devassaram por dentro.
"imaginava as cores de uma paleta de pantones e via descorrer ao som dos meus dias, o que fiz, o que faço e o que poderia fazer. desfilava à minha frente a paleta da minha vida, e eu tinha memórias, ou sonhos, para todos os pantones".
"hoje, serão poucos os que ainda me faltam preencher; desde a loucura mais extravagante ao acto mais caridoso a passar pela abnegação mais estúpida e sofrida, quase que posso sentir: been there, done that."
"mas também tenho o oposto, também tenho cores nos pantones mais escuros. sei, e lembro-me, de tornados e furacões que me assolaram a alma e depois o corpo, e me atiraram contra gentes e pessoas com a força que derrubaria muros de betão. e fizeram mossas, estes golpes mais ou menos inesperados, carregados de fel, amargura, raiva ou fúria estúpida ou tristezas atrozes, ou até, tantas vezes, um caldo imenso com tudo isto a boiar, ao jeito de uma daquelas sopas de entulho".
"a parte nova, são os sonhos. a parte nova é também a consciência da violência de são capazes as gentes, sem mexer um dedo. e é tão fácil", diziam-me.
"uma paleta de vida preenchida de cores com que já pintei os meus dias, e outras com que desenho as telas de um imaginário que se vai entretecendo e crescendo com o passar dos anos."
contaram-me, baixinho, quase ao ouvido, esta história, que podia ser de qualquer um. corremos todos o espectro quase todo das possibilidades de ser, fazer, sentir e desejar. e é mesmo assim, que é gente humana.
haja apenas a consciência, ao menos intermitente, do que se quer e do que se acaba efectivamente por fazer.
"imaginava as cores de uma paleta de pantones e via descorrer ao som dos meus dias, o que fiz, o que faço e o que poderia fazer. desfilava à minha frente a paleta da minha vida, e eu tinha memórias, ou sonhos, para todos os pantones".
"hoje, serão poucos os que ainda me faltam preencher; desde a loucura mais extravagante ao acto mais caridoso a passar pela abnegação mais estúpida e sofrida, quase que posso sentir: been there, done that."
"mas também tenho o oposto, também tenho cores nos pantones mais escuros. sei, e lembro-me, de tornados e furacões que me assolaram a alma e depois o corpo, e me atiraram contra gentes e pessoas com a força que derrubaria muros de betão. e fizeram mossas, estes golpes mais ou menos inesperados, carregados de fel, amargura, raiva ou fúria estúpida ou tristezas atrozes, ou até, tantas vezes, um caldo imenso com tudo isto a boiar, ao jeito de uma daquelas sopas de entulho".
"a parte nova, são os sonhos. a parte nova é também a consciência da violência de são capazes as gentes, sem mexer um dedo. e é tão fácil", diziam-me.
"uma paleta de vida preenchida de cores com que já pintei os meus dias, e outras com que desenho as telas de um imaginário que se vai entretecendo e crescendo com o passar dos anos."
contaram-me, baixinho, quase ao ouvido, esta história, que podia ser de qualquer um. corremos todos o espectro quase todo das possibilidades de ser, fazer, sentir e desejar. e é mesmo assim, que é gente humana.
haja apenas a consciência, ao menos intermitente, do que se quer e do que se acaba efectivamente por fazer.
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