sábado, novembro 17, 2007

gente perdida de mim


Reencontrei há dias gente amiga de quem me tinha afastado há já muito tempo. Mais até do que pensava. Tempo demais.
Viajava de carro e falava sobre outras coisas quando me fui apercebendo da falta que me fazia aquela outra gente de quem me fui afastando.

Relembrei-me e destroquei uma conversa simpática com aquele mais presente em tempos mais idos. Ainda hoje tem um semblante triste e melancólico e vive assolado por sentimentos tumultuosos e emoções que lhe continuam a castigar o corpo por quererem viver no limite. Conversámos sobretudo das saudades dos nossos encontros imperturbáveis e alheios ao mundo como alheio fui ficando à conversa que se ia desenrolando atrás e ao lado.

Da memória, visitou-me também aquele mais atrevido e assanhado até, que tanto prazer me dava quando tomava para si a pena e os anões. Perguntei-lhe pela vida e conta-me que teve saudades também. Saudades de me dar asas e colocar nos olhos as cores fortes e os aromas carregados que me atiravam até muito mais além do que eu faria sozinho. Contou-me que a vida sem ele não era a mesma coisa e pediu-me para não o mandar embora de novo. Viver sem ele seria mais triste, seria como viver quase só com o primeiro. E isso não era bom.
Ouvi, comovido pela falta que me assaltava, a ausência daquela parte de mim.

Assomou-se também o mais ausente. E chegou zangado. Ao contrário do seu espírito normalmente positivo e bem disposto, vinha danado. Danado porque quando há muito tempo tinha concordado em ser o menos presente, não lhe tinha passado pela cabeça ser tão esquecido, tão pouco lembrado e nada acarinhado como nos últimos meses da vida dele e da minha também. Parecia até o último, de tanto que resmungava e se irava, crítico de mim. Não o pude apaziguar, porque também eu, só podia concordar.
Falámos de quando nos poderíamos voltar a ver e prometi-lhe um sorriso para breve. Prometi-lhe um arco-íris sobre a minha vida para o deixar menos só. Mas não sei se vou conseguir cumprir a promessa tão cedo. E foi-se embora com a dúvida legítima de que passaria algum tempo antes de nos voltarmos a ver.

Não nos podemos afastar demais da nossa loucura. Fico pior…

2 comentários:

maria inês disse...

adorei

Maria Carvalhosa disse...

A loucura é o melhor e mais fiel companheiro. Aquele com quem podemos sempre contar...

Beijo.