ontem lembrei-me que, ao contrário da ideia romântica de "tender para o infinito", tendemos mesmo é para zero, numa progressão decrescente mais ou menos acentuada consoante as variáveis de viver que lhe acrescentarmos.
Vejamos o que faz o tempo, uma condição de evolução dos limites:
- não há amores para sempre - "they inevitably fade away with time”. A invenção de Hollywood do “I love for ever” só ainda pega em almas desavisadas e carregadas de ingenuidade
- não há ânimo que dure para sempre; apesar da maior ou menor frequência de episódios de renascimento que possam existir
- desaparece o querer
- esmorece a paixão
- esfuma-se a energia
- vai-se finando a própria vida
Os gregos, habitualmente sábios, traduziram bem este conceito na lenda das Danaides. Seremos nós também condenados apenas a, para sempre, tentar encher uma jarra crivada de buracos?
É que, por muito que empenhemos a nossa -limitada- capacidade, o melhor que conseguiremos é tentar evitar que se esvazie, porque sabemos à partida que não conseguiremos estabilizar o nível da água em nenhum ponto.
Será todo o esforço inglório por tender para zero? Uma metáfora para o viver?
Danados são os condenados ao inferno vivo, ou morto, de um tormento que só não tende para o infinito, por tender para zero a capacidade de sofrimento do castigado.
Agora, talvez se perceba melhor porquê.
1 comentário:
A vida é o que acontece enquanto tentas encher a jarra. A vontade que tens de a encher ou ver vazar varia mas tudo é vida entretanto. Vida pobre ou rica em fluxo, num fio de água que cai se espelha o teu rosto... triste?
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