quarta-feira, fevereiro 16, 2005

saudades de ter o que pode não ter passado de um sonho

têm-se passado os aniversários dos Aquários; são vários, aqueles a quem desejo parabéns nesta época.
Lembram-me que também eu estou próximo de mais uma curva.

Se pensar um pouco vou tentar lembrar-me do que aconteceu perto dos meus aniversários: inícios, fins, quebras, esperanças, amarguras, desilusões…

A época parece puxar-me para apenas uma conclusão: tenho frequentemente saudades do que pode perfeitamente não ter passado de um sonho. Um sonho bom. Aliás, é sempre um sonho bom, porque aí parece haver energia suficiente para encher o cântaro de Eurídice, ou alimentar o fígado de Prometeu. Mas infelizmente acabo sempre por acordar, o que me leva a uma de duas conclusões: ou são os sonhos mal construídos de raiz, todos eles, ou então desvanecem-se, à medida que o dia irrompe pela noite adentro e ilumina o tempo.

Hoje tenho também saudades dos sonhos. À medida que os anos foram passando, fui ficando cada vez com mais saudades, dos sonhos perdidos. Talvez porque o tempo mais verde é também mais rápido a mudar de estação, ou talvez porque custa um pouco mais de cada vez que se perde mais um sonho. Rien a faire.

O que fará brilhar a memória que se aperalta para desenhar mais um esboço de vida e depois, quase com a mesma facilidade, amarrota e arremessa a folha para o chão, como se de um autor, triste com a sua obra, se tratasse?

Pergunta a que gostaria de saber responder. Para poder imaginar a forma de trapacear a loucura que gere o encadeado vertiginoso a que chamamos “o nosso tempo”.

Hoje estou triste. Muito. Vou ver um filme e logo se vê o que faço com o dormir e sonhar e acordar. Parece fácil: bastará não acordar?

1 comentário:

Anónimo disse...

Só podemos amar verdadeiramente outra pessoa, quando nos aceitamos a nós próprios e quando nós aceitamos o outro. Os sonhos desvanecem-se quando não somos capazes de perceber que há coisas que nunca passarão de sonhos. A perfeição não existe e por isso nunca poderá ser alcançada. Procurá-la é como procurar o fim do arco-íris. E como em qualquer experiência científica, esta não é válida quando o observador interfere com o observado. Quando nos apaixonamos por alguém, apaixonamo-nos pela sua essência (com as virtudes e os defeitos inerentes) e não a podemos tentar modificar. Porque a obra perfeita não existe e quando tentamos mudar demais podemos criar algo que não corresponde à pessoa por quem nos apaixonámos. Para o bem e para o mal, é bom sonhar com pelo menos um pé assente na terra. E não querer o impossível. Por muito ambiciosos que sejamos. Eu amei-te muito. A ti. Com as tuas virtudes, mas também com os teus defeitos. Os teus sonhos desvanecem-se, porque tu não és capaz de fazer o mesmo com os outros. E sobretudo, porque não és capaz de o fazer contigo.