domingo, outubro 30, 2005

as putas das nossas mulheres


Em extremo podia ser um cumprimento, a equivalência entre uma e outra.

A inspiração foi externa e rebuscada, mas o tema preocupa-me há muitos anos. Mesmo.Ao longo do tempo, tem-se vindo a perder a ideia, estupidamente retrógrada, de que há coisas que uma esposa não faz. Uma das projecções deliciosas deste estereótipo ouvi-a ao mafioso dos violinos quando disse: “eu tenho que ter pelo menos uma amante: há coisas que a boca que beija os meus filhos de manhã, não pode fazer.” E pronto, estava justificado.Tem-se vindo a perder. Mas está bem longe de estar perdido, este sentimento estúpido do afastamento, de detachment de duas coisas inseparáveis.
E anda sempre tudo à volta do mesmo: intimidade.

Será que não percebem, os parvos dos homens e as parvas das mulheres, que o melhor do companheirismo, o melhor das alegrias, e o pior das tristezas, são privilégios da mulher ou do homem que se ama (consoante o gosto…).
E não é suposto ser de outra maneira, e ninguém me tira isto da cabeça. De todo. Se não há alma que se nos entregue mais e a quem nos demos com mais ânimo e anima, porque há coisas para as quais elegemos outra que não a nossa companheira?

Curiosamente, a resposta assaltou-me agora! Só agora… 33 anos de ignorância e, quem sabe, a explicação para muita coisa… é claro: não podemos esperar tudo da companheira que temos, se a perfeição não existe… agora tentar explicar isto a uma companheira… eh eh … boa sorte. Desenvolvo noutro dia.

Voltando ao início, a minha ideia, muito antiga, sobre este assunto, é que:
não pode existir mau sexo entre os amantes.
“Contradiction in terms”, como lhe chamam os ingleses

- Mudança de fundo. Troquei Ella Fitzgerald por aquela banda sonora … aquela… -

Se há uma pessoa que nos conhece as alegrias, nos ampara tristezas, nos vela o sono, nos acarinha as quedas e a quem damos e recebemos uma devoção a quem se decidiu chamar de amor, então, não faz sentido que o que nos pede a carne não seja apenas a continuação do que nos preenche o sorriso e os dias.
Caramba! Não faz sentido amar mais do que a quem amamos, certo?!

Então porque não é sempre a essa pessoa que entregamos o que temos e o que não temos do desejo, da volúpia, da fome de carne, que tão bem nos sabe e tão loucos nos deixa?

Como podem haver homens e mulheres que não se transformam das portas do quarto (..wherever…) para dentro e soltam o que não sabem que têm dentro e deixam correr os desejos e loucuras mais enterradas (…eu sei… subconsciente…), ao mesmo tempo que atiram para trás das costas as normas, e as socializações do aceitável?...
“Daqui para a frente vale tudo” - devia estar, em uníssono, a correr na mente dos dois corpos que se encontram como se fossem uma força da natureza.
Não podiam haver fronteiras. Não podiam haver travões. Não podiam existir peças menores ou pedras nas engrenagens que se encaixam finalmente, como se sempre tivessem pertencido ali; apenas tinham aguardado por aquela hora naquele dia… uma e outra e outra vez… em vários dias… em várias horas…
Não faz sentido não haverem gritos, não faz sentido não se ouvir a música da cama de encontro ao estrado do colchão… não faz sentido não haverem despojos e feridas de guerra… no meio da refrega, no meio desta batalha de corpos, o calor tem que ser tanto que a adrenalina devia correr solta e impedir a dor. Apenas soltar o prazer. E soltar à séria. Como se de cada vez fosse o último.

Não faz sentido não ter falta de ar como se o chão fosse fugir debaixo dos pés da cama ou da mesa da cozinha… não faz sentido colocar limites ao desejo… como não faria sentido colocar limites ao amor.

E quem é que pode negar que assim, é o melhor amar do mundo.

- pausa para martini – grande desassossego – cabrões dos violinos da faixa 7… embarquemos numa pequena carrocita… miss you too, my russian friend. Perhaps some other day -


Orgasmo múltiplos só para eleitas?... BUuuuuuuuu… é para toda a gente que queira!
Está à mão de semear de um grande amor.
Está tão perto como a vontade de cair para trás e saber que os braços da amante que temos não nos vão faltar.

Não acredito que falte imaginação a quem quer que seja. Não acredito na frigidez das pessoas saudáveis e custa-me a crer no pudor de alguém que ama.

Foda-se! Entendamo-nos de uma vez. Isto é mesmo só querer!

É só acreditar naquele preenchimento rasteirinho que sobe pelo corpo acima e nos ata um sorriso tolo de dia e de noite, enquanto dormimos. A sonhar com ela. Quem é que ….

- mais violinos de partir o coração, na 8 –

…quem é que pode acreditar que, algum dia, alguma puta poderá dar mais prazer a um homem do que a mulher/amante que ele tem solta lá em casa?
Haverá alguma coisa que a técnica de uma profissional possa fazer que suplante a entrega, a ternura, o desejo e o querer de uma amante?

Amante é uma mulher que amamos.
E que nos ama.
E quem tem em casa, não procura na rua.

É pena que eles, e elas, passem por tantas vidas sem se aperceber do que devia ser tão óbvio.


- não há final como as gotas de chuva de piano que cai da música 15… deliciosa… -

7 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom!
Penso q o q procuram fora de casa é precisamente a falta de entrega... o prazer carnal sem o envolvimento... pq esse nunca traz atrás as discussões, as divergências de opiniões, a vida, tal como ela é, a boa, mas tb a menos boa...

Mary Lamb disse...

Se se viver com quem não se ama, procura-se na 'rua'. Profissionais ou não, procura-se quem nos ajude a mascarar, a preencher uma lacuna que, a existir, não é assumida. Procura-se esquecer essa falta de amor. Eu não me posso queixar. Sempre que me entrego, é por inteiro. E nem preciso fazer correr as palavras 'aqui vale tudo', porque sou assim. Se gosto, entrego-me. Se não gosto, não vale a pena. Não pratico sexo por piedade.
Da minha atitude resultam normalmente más interpretações: esta gaja é uma puta!, vulgar...enfim. Gostam, mas a mulher para ter em casa não pode ter tanta liberdade nem mental, nem física, e orgasmos? Se existirem já estranham...Quanto mais múltiplos!
Isto quase dava um post. Bem trabalhado...

Anónimo disse...

Gostava muito mais do título original. O post, esse, é pura sabedoria. Eu sou puta e orgulho-me.
Dia

mac disse...

só não muda de ideias, quem não as tem.
rewind e toma lá

mac disse...

que elogio se pode fazer a estas mulheres?...
mais do que putas, são amantes.

Dia disse...

Grata. Pelo título. Pelo elogio.

Mary Lamb disse...

Gostei da reposição do título.
Mais uma amante. E puta. Orgulhosamente.
Mary