Olhava para ti hoje com a saudade das memórias de ontem e a incerteza própria de amanhã. Acompanhava-te uma música triste onde um violoncelo gemesse baixinho um chamado por ti, que ninguém ouvia. Nem tu.
Perdia nisto uma eternidade a chamar baixinho para ninguém ouvir. Para quê? Para gastar a energia que me consome e assim ocupar distraído o tempo que me falta.
O teu tempo por mim tão depressa como as minhas mãos pelo corpo esguio de uma mulher que se perdeu num dia frio em que deixou uma dor queimada pelo gelo da ausência do teu calor.
Porque custa, pedi que me dessem remédios antigos e cobriram-me as feridas de emoções, para penar menos. Pelo tempo que já passou, parece que foi ontem que partiste de tão presente que sinto ainda cair os últimos restos da tua alegria.
É um adiamento que se faz, para não ver nem adivinhar a realidade brutal própria destas coisas: uma ferida aberta pode fazer perder um bocado da gente.
Engano maluco de pensar e acreditar no quão fácil vai ser viver sem um bocado de si, só porque… o tempo passou rápido demais. Escorregou-me das mãos a água que tentava guardar porque alguém me dizia que podia guardar o teu reflexo. E pensei que conseguia guardar também o teu tempo. Parado. Enquanto sorria e me reclinava no céu que ainda tinha em ti.
Vale a pena. Vale a pena. Vale a pena. Vale sempre a pena ouvir, ver, fazer e sentir nascer e até morrer a vida que se afasta de nós.
Ficam para trás os restos dos farrapos do tempo a que nos agarramos como se as memórias fossem ainda gente… mas vão-se embora bocados de nós que nunca mais voltam.
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