quinta-feira, julho 19, 2007

os cabrões dos amores perfeitos



Gostava de saber quem foi o idiota que resolveu chamar amor-perfeito à flor. Como se não estivesse já avisado, desde há muitas centenas de anos para cá, que os ingleses inventaram o termo: “Contradiction in terms”.
Pois ao abrigo da terminologia anglo-saxónica, a quem é preciso respeitar a anciã e provecta idade, não se podem/devem misturar palavras que, por estarem tão antagónicas em sentido, não faz sentido nenhum que estejam próximas no espaço.
Claro que há ainda a liberdade poética… e ao abrigo deste gigantesco chapéu vale tudo ou quase tudo.
É uma fraude, esta boa da liberdade poética, pelo desengano a que pode levar um qualquer distraído mortal ou outro qualquer visitante de uma galáxia distante. Se num país como os EUA se processam empresas por não terem colocado o rótulo a dizer que o gato não deverá ser colocado dentro de um micro-ondas, imaginem o que este avisado povo não teria feito ao energúmeno que inventou a expressão “amor-perfeito”.
Concerteza que teríamos a pena capital por morte na fogueira depois de arrancadas as unhas dos pés e mãos com um alicate de cortar ferro, para todos os que tivessem induzidos quaisquer outros sobre a perfeição do amor.
Nem o amor próprio está próximo da perfeição, quanto mais o “abnegado e altruísta” amor sentimental entre dois seres humanos. E a questão preocupa-me a partir daqui, porque enquanto bom português, aprendi a viver com o inevitável e essa história de lutar contra moinhos de vento está feita para os parvos dos quixotescos espanhóis, mais do que para nós.
Aborrece-me, é verdade, como se comprova pelos parágrafos anteriores, mas é só isso. Não há volta a dar e, além de um qualquer parvo juiz americano, mais ninguém vai crucificar ninguém por causa deste assunto.
É idiota, a expressão.
É ingénua e perigosa, a crença.
É exasperante, a nossa capacidade em procurar os gambuzinos da vida. Mas pronto.
Mas não deixa de me angustiar a fatalidade do bicho.

O busílis da coisa está no limite até onde deixamos resvalar a coisa.
É que a coberto de sabermos que “nunca pode ser perfeito”, escondidos atrás da irredutível muralha da “realidade das coisas” deixamos navegar o barco das relações sentimentais para pântanos cheios de lodo onde os remos já custam a entrar e a fazer progredir a casca de noz a que vamos chamando de barco de viver onde, extraordinariamente, equilibramos das formas mais inimagináveis os futuros de tantas pessoas.
Onde é a porra do limite que deveremos considerar aceitável? Até onde são apenas contingências inevitáveis e onde começam os desequilíbrios estruturais que comprometem as casas da vida nos katrinas do dia-a-dia?
É que o desgraçado não é perfeito, pois não, mas aproveita-se das nossas fraquezas, incertezas e desconhecimentos para se instalar como um parasita que encontra um canto para onde ninguém olha e depois… depois ficamos a depender mais da sorte do de outra coisa qualquer para não sermos atacados por uma qualquer infecção que exija a remoção de um qualquer membro… da família.
Alguém faz o favor de explicar como se identificam os pontos de fronteira a partir de onde saberemos que estamos em território estrangeiro, sujeitos a um qualquer ataque de milícias armadas do suficiente para nos destruir o ânimo e a força de sermos gente de convicções?
Já sei, agora não dá para explicar porque não há tempo…
Estas coisas não são directas e simples…
Faz parte da magia de viver…
O incerto tem sempre o mistério de não ser óbvio…

Foda-se! Mas tudo tem um tempo! Os disparates de ser jovem e inconsciente têm o tempo contado no período da vida da gente, porque se não estariam… fora de prazo!
Também a incerteza tem que ser controlada se não,…
Se não,… bom… Heráclito dizia que a única coisa constante da vida era o processo de mudança, e assim ficaríamos presos a esta incerteza como elemento de base na vida?
Desconfio. Não gosto. Recuso-me terminantemente.
A alternativa da imobilidade vai dar ao mesmo. Este tal de Heraclito tinha um arqui-rival, assim ao género dos super-heróis, que dizia em traços gerais que nada mudava… o mundo das sensações não era mais do que uma ilusão, que auto-alimentavamos.
Perturbador, mas muito verdade. É que o que fazemos, ansiamos e sentimos é talvez, maioritariamente gerado internamente e quase independente do alvo do nosso afecto.
Alimentamos e condicionamos, aos mesmo tempo, os sentires do amor, entre outros.
E por isso, é verdade, alguns tolos ( e talvez felizes? ) podem mesmo sentir essa treta dos amores perfeitos, enquanto outros, não se conseguem focar num só ponto mais próximo e esquecer o resto à volta, vivendo assim a inevitabildade de uma vida que não tem amores perfeitos.
Os limites são nossos. Decididos consoante a capacidade que temos de sofrer e apanhar porrada: os mais masoquistas e covardes e contingenciais, ficam mais tempo e aguentam mais merdas. Os outros arrancam para outras paragens quando não lhes agrada o agitar das águas do mar porque não estão para ficar enjoados.

Afinal, tudo depende do que nos dispusermos. Se quisermos, conseguimos gerar quaisquer sentimentos e viver em quaisquer situações, numa realidade que, de tão bem alimentada passa de virtual a real. Não gosto desta promiscuidade entre o falso e o real porque, em boa verdade, não saberemos talvez nunca o que é que é mesmo real…

Vi a foto do desgraçado do amor-perfeito e vim aqui parar… é tão fácil compreender a malta que consome drogas duras.


2 comentários:

mafalda disse...

Tens toda a razão. Vá de "cabrões" para cima deles, o raio dos amores-perfeitos e mais quem lhes pôs tal nome.

Anónimo disse...

Como eu te compreendo...