terça-feira, junho 30, 2009

matar o tempo


porque é actual, na vida das gentes.
recorrente.
e tremendamente apaixonante, tanto quanto pode ser a atracção por qualquer abismo de que não vemos nem conhecemos o fundo.
e porque ontem, ouvi a expressão, que imediatamente me retesou as cordas que fazem arco perto do sentir.

(pausa.
para pensar se valerá a pena continuar a escrever, quando me apercebo que o anonimato tão confortável e libertador, deste MAC, se tem vindo a esfumar entre alguns mais próximos e outros, nem tanto; mas tem vindo a ser cada vez menos anónimo.
é que o grau de loucura que poderemos assumir fica sempre limitado pelas socializações sucessivas e consecutivas que vamos tendo que aplicar e gerir ao longo dos dias, dos meses e do resto da nossa vida desde que nascemos. esta faceta desvairada, em quem a tem, agarra-se como uma lapa que luta pela sobrevivência num exercício de comensalismo em que saberá um, consciente, e o outro, inconsciente, que fazem falta para assegurar a sanidade qb da unidade e assim, não assustar as outras pessoas.
a perturbação é tb é uma forma de vida, mas vive sempre encerrada. pode ser em casa, ou numa qualquer instituição de cuidados mentais que a tentará expulsar para dar lugar à insalobra, angustiante e repulsiva normalidade sem excessos nem convulsões de maior.
temos excepções, mas chamam-se artistas e podem ser loucos mediante um fee a pagar pela sua loucura, ie, terão que ocupar profissões que necessitem de "dotes artísticos". poderão ser poetas, poderão ser pintores ou escultores, poderão ser actores ou outros que produzirão peças e obras, de que natureza for, que aos outros parecerão, naturalmente estranhas. digo naturalmente porque estará incluída no fee uma cláusula de tolerância da vasta maioria, face aos resultados da arte que, por ser singular, será até, por vezes brutalmente valorizada numa subversão e ironia absoluta do destino.
mas isso, é para os "artistas".
este despotismo pré-estabelecido e estereotipado não é mais do que um novo processo de socialização que evoluiu para um estágio em que, agora, também já consegue absorver algumas "anormalidades".
é tão ridículo como redutor; é patético!... limitarmos a arte e a anormalidade de viver áquelas actividades inscritas no código 232-A/95 da socialização humana.
porque não aceitamos também a loucura presente naqueles que, mais perto ou mais longe, povoam os nossos dias? eu digo-vos: porque continuamos com medo do escuro e precisamos pela vida fora de continuar a dormir com as luzes acesas.
causa desconforto a surpresa e o desconhecido que, se não encaixar à primeira na matriz de lego que fomos construindo, tentaremos ignorar, abafar ou até repudiar como... uma expressão de óbvia loucura. e, por isso de doença característica do desvio que representa afinal esse comportamento estranho, face ao conforto e aconchego do pré-estabelecido.
e tudo isso,... porque não são artistas.

e assim, para escapar à censura tácita ou explicíta e ao julgamento fácil e redutor, vamos-nos escondendo nos blogs da vida e noutros fóruns ou recantos marginais onde se soltam as bestas amarradas durante o período em que, suavemente convivo convosco, dentro da aparente normalidade.
necessária, pois concerteza, para não assustar as pessoas.)

e, por isso, já não tenho vontade de escrever sobre a morte do tempo.

3 comentários:

Maria Carvalhosa disse...

Olá MAC,
Reflexões sempre tão profundas! Relendo o teu blog, mesmo que transversalmente, constata-se uma quase omnipresente tristeza: da vida que foi, da que não foi, da que poderia ter sido, da que, provavelmente, nunca será.
Tu não és (eras) assim taciturno quando julguei conhecer-te. Ou dar-se-à o caso de apenas conseguires escrever aqui (i.e., sentires vontade ou necessidade de o fazer) quando te encontras num estado de alma depressivo?

Como recordo as tuas gargalhadas e brincadeiras... o teu genuíno gosto de viver... o tal "sal da vida", que lamento não conseguir encontrar neste espaço.

Um beijo saudoso.

mac disse...

me neither

GuessWho disse...

Todos temos um lado lunar, o nosso. E o anonimato dos blogues, como lhe chamas, não tem na minha opinião nada de errado, pelo contrário. Já temos demasiado papéis para desempenhar pelo que é sempre bom existir um espaço para o disparate que é também a vida. A minha pelo menos é repleta de momentos, emoções, tontices, ansiedades, paixões e desejos. E o que é agora, o que se sente agora ( e se escreve) já não é mais logo, só é muitas vezes porque aqui fica escrito.