terça-feira, junho 23, 2009

não sei que porra de título dar a isto





domingo.
telefonema. tempo parado.
inimaginável.
impotência absurda.
espaço. deixa para amanhã, que hoje não ajudas ninguém. ou seria já o prenúncio ou a suspeita de que seria, de facto, impotente.

no sábado tinha dito, em voz alta, numa daquelas verbalizações em que o pensar nos salta para a boca: "tenho-lhes, de facto, muito carinho. esta é gente pela qual seria capaz de muito para os ver felizes ou proteger do que seja".

esta gente, de quem gosto assim, tem um filho e escolheu-me para padrinho. e no sábado o Miguel e a Teresa juntaram a família directa na qual fizeram a gentileza de me incluir desde há alguns anos. como não?... sou, pelo menos, mais um irmão. de cada um deles singularmente, e não apenas de um, e do outro por afinidade.
era o lanche / jantar que celebraria o aniversário do Miguel. cheguei mais cedo e saí também mais cedo porque precisava de descansar o espírito e uma casa com os pais e os irmãos em festa era demais naquele dia. mas ainda tive tempo de o ver, de o cumprimentar e de o ver rasgar aquele sorriso suave e malandro enquanto me dizia: "então hoje estamos a chá? nem um vinho nem nada? muito fraquinho". É impossível não gostar do pai da Teresa... era impossível não gostar do pai da Teresa.

ontem foi segunda feira e a notícia infeliz estava espalhada por todos os pasquins do nosso rectângulo. O Fernando morreu na ponte para onde tinha ido, com o mesmo sorriso, dizem-me, passear e trazer a bicicleta...
Morreu, aparentemente, de forma rápida e indolor, como se isso fosse suficiente para acalmar ou amenizar a dor estúpida que se espalhou lá em casa dele e feriu tão fundo os filhos e a mulher.
O Carlos saiu com o pai de casa e voltou sozinho e é inimaginável o que se possa sentir nesse, e nos dias seguintes.
Adivinha-se-lhe o pensamente de quem se culpa pelo caos. Se não tivesse acontecido naquela situação, podemos dizer-lhe, seria noutra, porque o problema é congénito e comum à família. Mas ele, agora, não consegue ouvir. Só consegue lembrar-se que levou o pai e não o trouxe para casa de volta para a mãe, para ele e para a Teresa.
Amanhã, eu repito-lhe, e nos dias seguintes também, até ele ouvir.

Ontem foi um dia estúpido para a família, enquanto esperam que haja uma autópsia e um velório e um funeral.
Porque as pessoas precisam que alguém dê um tiro de partida e anuncie que começa nesse momento o resto da vida. agora sem ele. agora menos. Mas, ao menos, é a partir de agora.
As pessoas precisam de âncoras para cravar no caminho e apoiar os pés para andar. E o fim, precisa de ser mesmo final, para ser definitivo.
O meu sentimento de impotência é absurdo, apesar de ridiculamente insignificante. Ontem, Teresa, perguntaste-me se eu, anormalmente, não tinha palavras e só te soube responder com as lágrimas que eu pensava que não tinha, a correrem-me desavergonhadas pela cara abaixo. Não me é, nestes dias, fácil distanciar assim do que aconteceu para poder ajudar como esperariam que talvez pudesse. Não tenho palavras Teresa, porque me invadiu um bocadinho insignificante da vossa dor, como se fosse possível que, ao sofrer também, vos pudesse aliviar alguma grama da tristeza que carregam.
E o que sobra é esta quase completa inutilidade, amenizada apenas pela companhia e disponibilidade absoluta e incondicional que vos posso oferecer, enquanto aqui, os meus olhos continuam a insistir em que, de facto, vos podem ser úteis as lágrimas que me correm agora enquanto penso no que poderão estar a sofrer. como se a energia negativa ficasse mais repartida... têm tanto de ingénuos, como de bem intencionados e independentes, as partes de nós que às vezes parecem querer viver sozinhas sem ouvir a razão das coisas e a quem respondem que muito do fazemos ou sentimos, se gere por outros valores que, às vezes, não têm razão nenhuma.

o Fernando também faleceu na ponte, sem razão absolutamente nenhuma.

para a família ficará concerteza a memória de uma vida carregada de suavidade, boa disposição e uma humanidade fantástica que mostrava concerteza a alegria de viver de quem estava como gostava, e perto de quem queria bem. e isso, meus amigos, deveu-se concerteza também a vocês; é vosso o mérito.
se quiserem um fiel do quão bom foi o tempo que o Fernando passou, pensem no sorriso rasgado que fazia quando olhava para vocês e gostava do que via.
vocês fizeram parte determinante daquela vida feliz.

e ele, se pudesse, agradeceria tudo o que fizeram por ele.
na falta de melhor façam dele estas palavras e guardem este sentir, que seria o dele. porque esta será a vossa verdade mais preciosa nos próximos tempos de, concerteza, muitas saudades.

4 comentários:

Anónimo disse...

...
M

Madalena disse...

Perdeu-se uma vida, mas ganhou-se uma estrela que viverá para sempre nos nossos corações!
É grande a tristeza da sua ausência física, mas enorme a alegria e o orgulho de um dia o ter-mos tido junto de nós e chamado de PAI, MARIDO,SOGRO,GENRO, IRMÃO, "CUNHO", TIO, AMIGO... Tudo com letra grande, como ele que foi um HOMEM com letra grande...
Difícil não gostar dele...
Impossível esquecê-lo...

Madalena disse...

Perdeu-se uma vida, mas ganhou-se uma estrela que viverá para sempre nos nossos corações!
É grande a tristeza da sua ausência física, mas enorme a alegria e o orgulho de um dia o ter-mos tido junto de nós e chamado de PAI, MARIDO,AVÔ,SOGRO,GENRO, IRMÃO, "CUNHO", TIO, AMIGO... Tudo com letra grande, como ele que foi um HOMEM com letra grande...
Difícil não gostar dele...
Impossível esquecê-lo...

CLÁUDIA disse...

Uma boa semana, um beijinho e um sorriso. :)
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