o belo do compromisso... sucks!
e não há eufemismo que lhe valha.
Ninguém pode ser efectivamente feliz, se viver em regime de "compromisso" permanente. Sabem o que é? É aquele meio termo, aquele entendimento civilizado de sã e salutar convivência entre duas pessoas. Deixem-me lembrar, para quem ainda não está a ver: é aquilo que fazemos a pensar que salvaguarda alguma parte de nós, quando afinal nos anula em todas as frentes.
Radical? Nem por isso.
Se quiseres muito, se gostares ainda mais e os desejos do que quer que seja transbordem por ti afora, que satisfação podes conseguir, se fizeres METADE(!) do que querias?
Se pensam em responder "metade da satisfação", desenganem-se. A acumulação de insatisfação, quando estamos tão perto de fazer exactamente aquilo que gostaríamos, é desgastante. Corrói devagar, e vai apagando o brilho dos olhos.
As negociações foram feitas para as empresas e outras entidades abstractas que não sentem. Só essas não têm pena do que perderam, ao ficarem a 50% do objectivo em regime de trade-off por outra coisa qualquer. As pessoas, remoem. Anseiam, e vão acumulando o desejo, numa folha de créditos por saldar, que não faz bem a ninguém.
Os compromissos não devem ser banidos da vida de ninguém, entenda-se. Mas não podem preencher os dias. É como se nos contentássemos com uma pequena mantinha que nos amodorna o corpo. Não é quente, mas consola um bocadinho... Não satisfaz, mas também não é nenhuma lareira a crepitar de satisfação. É... um compromisso possível...
Criticar é fácil, não é?... Mas pode ser que haja um vislumbre de solução, lá longe, ou mais perto, quanto menor ou maior for a audácia de fazer diferente.
Então e se, em vez de entrarmos no compromissozinho de merda, a toda a hora, experimentarem deixar acontecer até ao limite máximo, aqueles gostos, desejos ou loucuras de quem gostamos, queremos bem ou até, só convivemos? E se se optar pela tolerância?
Imaginar a satisfação e o prazer de ter, no rosto e estar daqueles a quem queremos, é... delicioso. to say the least... trust me.
Podemos optar por tolerar coisas de que não gostamos, mas que são realmente importantes? Claro que sim. E ninguém morre por isso.
É mil vezes preferível fazer algumas coisas de que gosto muito, do que imensas, de que não gosto particularmente e me são apenas,... neutrais.
Esta coisa de ser humano e ter alguém a que se quer, é mesmo assim: uns dias sofre-se um bocado, e noutros vai-se ao céu. Várias vezes, se possível :-)
Não se fiquem pelo "assim, assim...".
E dêm tudo o que podem, gostem mais, ou menos, ou até nada, a quem esteja disposto a vos dar também. E rasguem os dias ao acordar com aqueles sorrisos de que se constroem lendas.
terça-feira, março 14, 2006
sexta-feira, março 10, 2006
ó gente da minha terra
agora é que eu percebi
esta tristeza que trago
foi de vós que a recebi.
começa assim um fado da Mariza, que ecoa dentro dos tímpanos enquanto pára o peito de bater em homenagem à voz e ao sentimento que a malvada da mulher atira para as palavras que canta.
Deu passagem a um passo descompassado em passeio desarticulado: não era mais ninguém que não os próprios pés e pernas que empurravam o ânimo para mais um pouco de ar negro.
Ouvia ao fundo os velhos, naquela sala vazia, cheia de computadores à espera. À espera de quem pudesse, por necessidade ou piedade, dar uso ao que de melhor tinham e poderiam fazer.
que triste sina não deverá ser sentir o poder de fazer e não ter o espaço, o tempo, a oportunidade e as gentes que saibam, queiram ou aceitem fazer cumprir o que rasga, de dentro, a pele que se veste.
quanto mais se aproximam do destino, mais se ouve o rirombar seco que atira contra a jaula o fogo de um animal selvagem prestes a soltar-se.
se de longe se consegue controlar a fome por ausência de ter o que comer, experimenta atirar essa turba em fúria para um campo de cereais virgens. rapidamente se despedaçam as camisas do milho e se acendem as fogueiras, enquanto, em tensão, esperam pelo concretizar de um destino a que não podem fugir, os entumescidos grãos de milho.
experimenta dizer a uma turba de gente esfomeada que sente já escorrer nos lábios a saliva, que não podem comer. levanta-se em armas o próprio inferno, que não conhecia o imenso calor que tinha guardado.
não cabe já nas fronteiras feitas em tempo originais para as coisas primeiras, e sentem-se romper os diques artificiais que montaram para segurar naturezas prenhes de vida que sentem mais perto o aroma das cores quentes e o sabor do prazer.
semicerram-se o olhos enquanto tomamos o gosto ao que seguramos nos dentes, como que a dizer que queremos dar exclusividade ao sentir dos sabores. de tão perto, misturam-se as essências da presa e dos caçadores enquanto se constroem vidas novas e misturam os fados. ouve-se gemer baixinho cada vez mais perto, até se tornar ensurdecedor o prazer de matar a fome de comer...
fosse a fome gente: comía-nos vivos.
segunda-feira, março 06, 2006
fora de casa e atacado
Por uma insónia inoportuna. Amanhã de tarde começa a reunião e eu quero levantar-me cedo para ir sentir o aroma do dedo divino e ver a basílica, já agora.
Aterrei num país diferente. Os homens falam sem sorrir e as mulheres têm fogo no corpo: andam e vestem para matar.
Se embrulharmos tudo isto em pedra que, de tão antiga, ganhou o direito de falar connosco e invocar memórias para os visitantes de quem mais gosta. Tive sorte. Com as pedras, não com as mulheres.
Ouvem-me chegar e segredam-me histórias loucas onde a realidade se mistura com os sonhos que foram tendo ao longo dos séculos e me confidenciam enquanto salto de uma para outra. Aqui ninguém me chateia se saltar para cima de qualquer coisa para ver melhor, ou só porque me apetece. Sinto que aqui, se fabricam menos rédeas de pudor ou do correcto. Gosto disto.
Dizia-me um amigo ao telefone, enquanto eu interrompia a visita ao palácio com a cripta das cinzas de Adriano (eu não sabia que o fulano tinha sido cremado!), “isso tem muitas pedras!” Quase my friend. Quase. É bem verdade que aqui, se uma criança sair para arua com uma daquelas pázinhas para a praia, descobre mais um calhau avô dos outros.
Adoro a cavaqueira louca que se instala quando a minha loucura se funde nas rugosidades daquelas paredes quase libidinosas… Vejo as formas e sinto prazer do cinzel enquanto formava, e do artista à medida que se desvendava o que lhe passava dosentir para as mãos. Minha nossa! Se já sem motor de arranque, estes olhos disparam sozinhos para outros mundos… aqui… arrepiam-se-me os pêlos, prende-se a voz, para não sair embargada com a comoção dos edíficios,… da arte… e das pessoas que por aqui fruem o aroma de viver com querer. Muito bom.
Podia viver aqui e sonhar acordado todos os dias. Podia povoar o espaço com guerreiros de conquistas loucas e glórias sem par, enquanto voltavam para as virgens vestais à espera de mais uma orgia desregrada. Podia viver aqui. Naquele tempo.
Ouço água em cada esquina e vejo a arte feita de tudo o que possamos imaginar: portas, telhados, paredes, varandas, balcões de ópera virados para a rua, a espreitar quem passa…
Sinto sempre medíocres quaisquer palavras que possam dizer os guias dos grupos de turistas a quem me vou alapando para ouvir mais uma história, numa língua diferente. Aliás, já desisti dos alemães. Aquilo é uma autêntica língua de trapos e não se percebe nada. Aos outros, lá vou acompanhando pela cidade, a quem vou também fazendo perguntas com o direito justo de quem não pagou para ouvir. Mingle my dear, mingle. E eu… tá bem! Por falar nisso, não há burgessos como os americanos. Que gente insensível e bruta. Percebo agora porque é que o sr Bush lá vai ganhando eleições.
Outras vezes, corro sozinho, as vielas e as Vias cá do sítio até chegar a mais um monte de pedras em forma de arte sacra ou pagã, conforme a antiguidade. Os aglomerados de gente a não fazer nenhum, são formidáveis. E são indígenas, não um qualquer bando de japoneses estacionados à espera de ordem de marcha para o próximo ponto – destes, também tenho visto muitos.
Escadarias, bruscetas (humm...) e lojas por todo o lado, sem um único arranha céus ou prédio fora da mãe, no perímetro da cidade. Está suja de fuligem, e tem o pó vermelho do estuque pintado a soltar-se, mas é mágica a filha da mãe da cidade.
Esta gente é orgulhosa e eu percebo porquê. Quando se tem + de 3000 anos de histórias, permitimo-nos algumas veleidades.
Com justiça.
Até amanhã.
Subscrever:
Mensagens (Atom)