Perco tempo, de noite, enquanto tenho os olhos fechados, e sinto de dia o desperdício que é ter os olhos abertos.
Venho cada vez mais ter contigo, numa espiral que me preocupa se não será pouco saudável...
Quanto tempo precisamos de droga, para saber que estamos a ressacar e não a tremer de frio por uma qualquer aragem que passa entre portas que não há meio de se fecharem?
E este ranger de dentes que não me larga a ânsia de não estar perto quando não quero estar em porra de lugar nenhum...
segunda-feira, outubro 31, 2005
no name... again
Onde posso esperar pela inspiração de viver?
Queria ter um banco pequeno, não maior que a minha mão, para me sentar. À espera.
Não saio de mim desde a última vez que me levei a passear. Foi há já tanto tempo.
Lembro-me... mentira,... não lembro nada.
Mas gostava de me lembrar.
Ou, ao menos, de sentir como se lembrasse.
Se, ao tempo pudesse subtrair a mágoa
Se a mim pudesse acrescentar a tranquilidade
E um pouco de paz,
que suave seria o morrer só.
Quem sabe...
se eu deixar fugir aos poucos
um pouco de vida
de cada vez.
Queria ter um banco pequeno, não maior que a minha mão, para me sentar. À espera.
Não saio de mim desde a última vez que me levei a passear. Foi há já tanto tempo.
Lembro-me... mentira,... não lembro nada.
Mas gostava de me lembrar.
Ou, ao menos, de sentir como se lembrasse.
Se, ao tempo pudesse subtrair a mágoa
Se a mim pudesse acrescentar a tranquilidade
E um pouco de paz,
que suave seria o morrer só.
Quem sabe...
se eu deixar fugir aos poucos
um pouco de vida
de cada vez.
domingo, outubro 30, 2005
as putas das nossas mulheres
Em extremo podia ser um cumprimento, a equivalência entre uma e outra.
A inspiração foi externa e rebuscada, mas o tema preocupa-me há muitos anos. Mesmo.Ao longo do tempo, tem-se vindo a perder a ideia, estupidamente retrógrada, de que há coisas que uma esposa não faz. Uma das projecções deliciosas deste estereótipo ouvi-a ao mafioso dos violinos quando disse: “eu tenho que ter pelo menos uma amante: há coisas que a boca que beija os meus filhos de manhã, não pode fazer.” E pronto, estava justificado.Tem-se vindo a perder. Mas está bem longe de estar perdido, este sentimento estúpido do afastamento, de detachment de duas coisas inseparáveis.
E anda sempre tudo à volta do mesmo: intimidade.
Será que não percebem, os parvos dos homens e as parvas das mulheres, que o melhor do companheirismo, o melhor das alegrias, e o pior das tristezas, são privilégios da mulher ou do homem que se ama (consoante o gosto…).
E não é suposto ser de outra maneira, e ninguém me tira isto da cabeça. De todo. Se não há alma que se nos entregue mais e a quem nos demos com mais ânimo e anima, porque há coisas para as quais elegemos outra que não a nossa companheira?
Curiosamente, a resposta assaltou-me agora! Só agora… 33 anos de ignorância e, quem sabe, a explicação para muita coisa… é claro: não podemos esperar tudo da companheira que temos, se a perfeição não existe… agora tentar explicar isto a uma companheira… eh eh … boa sorte. Desenvolvo noutro dia.
Voltando ao início, a minha ideia, muito antiga, sobre este assunto, é que:
não pode existir mau sexo entre os amantes.
“Contradiction in terms”, como lhe chamam os ingleses
- Mudança de fundo. Troquei Ella Fitzgerald por aquela banda sonora … aquela… -
Se há uma pessoa que nos conhece as alegrias, nos ampara tristezas, nos vela o sono, nos acarinha as quedas e a quem damos e recebemos uma devoção a quem se decidiu chamar de amor, então, não faz sentido que o que nos pede a carne não seja apenas a continuação do que nos preenche o sorriso e os dias.
Caramba! Não faz sentido amar mais do que a quem amamos, certo?!
Então porque não é sempre a essa pessoa que entregamos o que temos e o que não temos do desejo, da volúpia, da fome de carne, que tão bem nos sabe e tão loucos nos deixa?
Como podem haver homens e mulheres que não se transformam das portas do quarto (..wherever…) para dentro e soltam o que não sabem que têm dentro e deixam correr os desejos e loucuras mais enterradas (…eu sei… subconsciente…), ao mesmo tempo que atiram para trás das costas as normas, e as socializações do aceitável?...
“Daqui para a frente vale tudo” - devia estar, em uníssono, a correr na mente dos dois corpos que se encontram como se fossem uma força da natureza.
Não podiam haver fronteiras. Não podiam haver travões. Não podiam existir peças menores ou pedras nas engrenagens que se encaixam finalmente, como se sempre tivessem pertencido ali; apenas tinham aguardado por aquela hora naquele dia… uma e outra e outra vez… em vários dias… em várias horas…
Não faz sentido não haverem gritos, não faz sentido não se ouvir a música da cama de encontro ao estrado do colchão… não faz sentido não haverem despojos e feridas de guerra… no meio da refrega, no meio desta batalha de corpos, o calor tem que ser tanto que a adrenalina devia correr solta e impedir a dor. Apenas soltar o prazer. E soltar à séria. Como se de cada vez fosse o último.
Não faz sentido não ter falta de ar como se o chão fosse fugir debaixo dos pés da cama ou da mesa da cozinha… não faz sentido colocar limites ao desejo… como não faria sentido colocar limites ao amor.
E quem é que pode negar que assim, é o melhor amar do mundo.
- pausa para martini – grande desassossego – cabrões dos violinos da faixa 7… embarquemos numa pequena carrocita… miss you too, my russian friend. Perhaps some other day -
Orgasmo múltiplos só para eleitas?... BUuuuuuuuu… é para toda a gente que queira!
Está à mão de semear de um grande amor.
Está tão perto como a vontade de cair para trás e saber que os braços da amante que temos não nos vão faltar.
Não acredito que falte imaginação a quem quer que seja. Não acredito na frigidez das pessoas saudáveis e custa-me a crer no pudor de alguém que ama.
Foda-se! Entendamo-nos de uma vez. Isto é mesmo só querer!
É só acreditar naquele preenchimento rasteirinho que sobe pelo corpo acima e nos ata um sorriso tolo de dia e de noite, enquanto dormimos. A sonhar com ela. Quem é que ….
- mais violinos de partir o coração, na 8 –
…quem é que pode acreditar que, algum dia, alguma puta poderá dar mais prazer a um homem do que a mulher/amante que ele tem solta lá em casa?
Haverá alguma coisa que a técnica de uma profissional possa fazer que suplante a entrega, a ternura, o desejo e o querer de uma amante?
Amante é uma mulher que amamos.
E que nos ama.
E quem tem em casa, não procura na rua.
É pena que eles, e elas, passem por tantas vidas sem se aperceber do que devia ser tão óbvio.
- não há final como as gotas de chuva de piano que cai da música 15… deliciosa… -
sexta-feira, outubro 28, 2005
hoje
apetece-me arrancar os botões e rasgar o tecido do peito.
e deixar a camisa à mostra...
e não sei o que fazer com isto.
e deixar a camisa à mostra...
e não sei o que fazer com isto.
"insano... um dia destes" ou "as sombras dos meus tormentos têm vista de mar"
depois de ter começado, não se pode parar de escrever, e tapar o pequeno ponto de escape, que aparece no teclado do pensar...
a partir de quando, se pode considerar oficial a esquizofrenia de ter vários?
às vezes, para alguns, há dias em que se rompe a película que liga os sentires escritos, aos semblantes que passeiam na rua.
tão diferentes, que nem parecem filhos do mesmo pai...
não tenho nome para ti
Sabe-me bem o silêncio das palavras que não tenho que aturar, por ocasião, en passant, ou por outra qualquer vulgaridade.
Aprecio a solidão do espaço que não é ocupado por coisa nenhuma, nem por ninguém que não tem interesse suficiente em estar.
Gosto de observar o que se passa e beber nos lábios das gentes os pensamentos que não saem para a rua.
Fico um pouco cansado, no final da semana, quando está acumulada a imensa superficialidade e circunstancialidade com que vivem as gentes. De quem não é possível escapar.
Aliás, é até obrigatório ficar.
Contrariar a vontade de fugir.
É tão, tão preciso ver para dentro do corpo, à procura do valor que, tantas vezes o dono se esforça em destruir na interacção que prima pela mesquinhez da palavra falsa e dos arranques primários de mau génio e intolerância.
Estou estafado, neste fim de tarde, neste fim de semana. E não tenho porto de abrigo, como diz uma pessoa que conheço.
Dependo - como todos, aliás – da vontade de sobreviver e viver.
E se ela falta, sistematicamente, dia após dia, numa cadência que chega a ser quase horária... lembro-me do tempo muito antigo... e sei.
Hoje é diferente, mas nem tanto assim. Só mais desperto... ainda.
E cada vez mais encerrado para obras, que parecem nunca terminar...
Aprecio a solidão do espaço que não é ocupado por coisa nenhuma, nem por ninguém que não tem interesse suficiente em estar.
Gosto de observar o que se passa e beber nos lábios das gentes os pensamentos que não saem para a rua.
Fico um pouco cansado, no final da semana, quando está acumulada a imensa superficialidade e circunstancialidade com que vivem as gentes. De quem não é possível escapar.
Aliás, é até obrigatório ficar.
Contrariar a vontade de fugir.
É tão, tão preciso ver para dentro do corpo, à procura do valor que, tantas vezes o dono se esforça em destruir na interacção que prima pela mesquinhez da palavra falsa e dos arranques primários de mau génio e intolerância.
Estou estafado, neste fim de tarde, neste fim de semana. E não tenho porto de abrigo, como diz uma pessoa que conheço.
Dependo - como todos, aliás – da vontade de sobreviver e viver.
E se ela falta, sistematicamente, dia após dia, numa cadência que chega a ser quase horária... lembro-me do tempo muito antigo... e sei.
Hoje é diferente, mas nem tanto assim. Só mais desperto... ainda.
E cada vez mais encerrado para obras, que parecem nunca terminar...
sabana santa
Prelúdio. Introdução de tema, primeiros acordes. A entrada em harmonia com os primeiros acordes do corpo... da música.
Os violinos e as violas acompanham ao fundo e estabelecem um ritmo de movimento. Sem agressividade, mas lânguido. Sem rufar de tambores, mas crescente de envolvência. E vamos subindo. Ouvem.se as primeiras palmas, os baques das mãos que conferem mais ritmo... à música. E o corpo... dos violinos... que começa a gemer ao longe. Os acordes são mais longos e as vozes começam a chamar... pela música.
Fica tudo tão mais fácil com um prenúncio destes, e o virtuosismo... da guitarra... de Vicente Amigo, entra na música com uma força que levanta... em ovação, quem ouve e sente tocar... a alma.
Trabalho em open space. Com dezenas de pessoas atarefadas a passar à minha volta.
Mas não sou capaz de ficar indiferente à sensualidade da arte que se pode ter... e tantas, tantas vezes, nos passa ao lado.
Quando somos indiferentes.
Os violinos e as violas acompanham ao fundo e estabelecem um ritmo de movimento. Sem agressividade, mas lânguido. Sem rufar de tambores, mas crescente de envolvência. E vamos subindo. Ouvem.se as primeiras palmas, os baques das mãos que conferem mais ritmo... à música. E o corpo... dos violinos... que começa a gemer ao longe. Os acordes são mais longos e as vozes começam a chamar... pela música.
Fica tudo tão mais fácil com um prenúncio destes, e o virtuosismo... da guitarra... de Vicente Amigo, entra na música com uma força que levanta... em ovação, quem ouve e sente tocar... a alma.
Trabalho em open space. Com dezenas de pessoas atarefadas a passar à minha volta.
Mas não sou capaz de ficar indiferente à sensualidade da arte que se pode ter... e tantas, tantas vezes, nos passa ao lado.
Quando somos indiferentes.
quarta-feira, outubro 26, 2005
tributo
Estalou debaixo dos pés dela a esperança de ver sair uma imagem de que gostasse. Não adianta, pensou, nunca vou ficar bem.
Podia ser um qualquer princípio de alguma coisa. Mas não.
Foram apenas as primeiras palavras que, instintivamente, atirei para o teclado. O mote veio depois: porque são belas e desejáveis, as mulheres?
Para mim, as mulheres não são bonitas, pelos traços do rosto, a curva das ancas ou a firmeza das mamas. Não, as mulheres tornam-se belas, pelo estar.
Esta é, curiosamente, a maior arma que tem o sexo oposto ao meu. Seduzir não é um exercício estático, da mesma forma que o encanto não tem qualquer ligação com as fotografias. Por mais bonitas que sejam, as mulheres não se tornam apetecíveis, se não tiverem encanto.
A própria palavra vale um apontamento. Encantar não é mais do que lançar uma qualquer magia sobre alguém que, caso resulte, fica encantado.
É uma espécie de feitiço bom, sedução subliminar que não se vê, de forma explícita, mas invade o pensamento e o corpo como uma entidade aliegena, que toma posse de nós, de um momento para o outro.
O encanto é um despertar que nos faz acordar para um qualquer bem estar, mais ou menos físico, que sentimos quando estamos próximos de uma destas mulheres.
Há mulheres que transpiram sedução. Deve haver um livro, ou até alguma parte do código genético, inscrito no 2º cromossoma X, que lhes dá o saber pisar o chão por onde passam.
Há medida que o tempo vai passando, esta apetência feminina vai-se desenvolvendo e elas vão ganhando a tranquilidade e a segurança de serem fêmeas adultas.
Quando crescem de forma saudável, as mulheres aprendem a controlar os impulsos juvenis que tanta graça tinham... na juventude. Perdem a precipitação e agressividade adolescente, própria da... adolescência.
E ganham. Ganham a serenidade, a calma, a ponderação e aprendem a equilibrar tudo isto com a garra de viver.
E aprendem a sorrir. E conseguem o que querem ser ter que exigir nem pedir. Aprendem a conquistar, também, por indução.
Alguma sufragista mais acirrada poderia dizer: “Mas não estarão a desvirtuar a sua natureza mais genuína? Não será um exercício de socialização feminina, demasiado fascista?”
Se fosse assim, teríamos que banir os saltos altos que vos magoam os pés e não são próprios para correr, teríamos que proibir o rímel e a base porque alteram a cor do rosto e a forma das pestanas e teríamos que queimar os soutiens porque alteram a forma natural das mamas.
A verdade é que, em muitas coisas, as raparigas optam por alterar e fazer evoluir o seu “estar”.
As mulheres, quando percebem que podem andar ainda mais alto do que lhes permitem os saltos agulha dos seus sapatos preferidos, aprendem a sorrir.
E a encantar.
gone 2
Quando me propuseram ficar eu sabia que não podia aguentar mais a opressão de não ser feliz.
E, por isso, fui-me embora.
E, por isso, fui-me embora.
gone
Perdi muito tempo à espera das palavras que não disseste.
Não te ouvi, quando tentaste dizer o que na realidade não sentias.
Deixei de olhar para o que não fazias por nós.
E perdi.
Perdi a alegria de estar e perdi o olhar terno e as mãos suaves que adoravam visitar as tuas.
E depois, mais tarde, perdeste-me.
Não te ouvi, quando tentaste dizer o que na realidade não sentias.
Deixei de olhar para o que não fazias por nós.
E perdi.
Perdi a alegria de estar e perdi o olhar terno e as mãos suaves que adoravam visitar as tuas.
E depois, mais tarde, perdeste-me.
quinta-feira, outubro 20, 2005
canibais
Pedi uma, duas e três e mais e muito mais vezes, para poder ter o que sonho ser possível e vejo ser dado ao mundo.
Também quero, dizia eu. Também me sinto no direito de pedir. E ter.
Mas peço baixinho. Não sinto a coragem, nem me julgo com a autoridade para mandar. Então, peço.
Peço baixinho para que só me ouça quem está com atenção ou, quem de direito, com os ouvidos afinados na nota e no tom certos.
Onde andam? Que não vejo mais quem tenha a disponibilidade, disposição e vontade ou até a tolerância, para ouvir.
Não será uma tolice fazer e agir ou interagir sem saber quem é, quem nos fala?
Podemos sair pela porta da intolerância e prepotência, afirmando a nossa recusa consciente em ouvir. Ou, podemos manter o caminho egoísta há muito traçado – é sempre uma coisa antiga – e continuar a avançar pela direcção e sentido que melhor nos apraz, sem perceber se prejudicamos, beneficiamos ou até chocamos com outros que, como nós, avançam indiferentes ao que os rodeia.
Esta é uma indiferença aflitiva. É talvez a marca maior do tempo em que estamos.
As gentes, em oposição à opressão com que foram brindadas no passado, por um lado, e alinhadas com o culto da indolência, por outro, têm-se preocupado em...nada.
Pois. Nada.
E ninguém percebe que é contra natura.
Não é um sinal de carácter, nem de personalidades fortes, é um sinal objectivo e declarado, de estupidez crassa.
A beleza das rosas não sobressai, nem sobrevive à custa de outras flores, e as sequóias gigantes não deixam de contribuir para o ecossistema que, pleno de vida e pujante de força, se vai desenvolvendo a mais de 30 metros abaixo.
Os gigantes da natureza aprenderam, há muitos anos, que não podem sobreviver nem sozinhos, nem em desarmonia com o que os rodeia.
E nós, povo estúpido, quando vamos aprender que não podemos viver a direito, sem ponderar na balança do que fazemos, os sentires dos outros?
O sucesso irá ser entregue aos elementos que, da espécie, melhor interajam com toda a natureza que os rodeia.
Sem contribuir para equilíbrio, somos nós que ficamos à beira da extinção.
Por canibalismo.
terça-feira, outubro 18, 2005
alternativa... de não viver?
Um dia, expliquei numa aula que o nosso instinto de sobrevivência era provavelmente o elemento mais forte da nossa natureza. E cada um escolhe os melhores caminhos para ter tanto sucesso quanto possível, em manter-se vivo.
Uns são mais agressivo, outros são mais combativos, outros são cobardes e fogem e por aí fora. A maior evidência disso é que nunca morremos, nos nossos próprios sonhos: acordamos antes, para sobreviver.
Passadas algumas aulas, ele veio ter comigo e disse-me: “Professor, há mais um tipo de abordagem à sobrevivência.” – “E qual é?” perguntei.
“A indiferença.
Algumas pessoas, poucas, não querem saber de contornar a morte. Não encontrando razões ou amarras sólidas para ficarem no mundo, aguardam serenamente que um qualquer acaso as leve. E não são suicidas, porque não procuram o fim. Apenas não o evitam.”
- “Onde foste buscar essa ideia?”
“A noite passada – respondeu-me ele - morri no meu sonho. Morri com dor. Mas, depois de morto, fiquei tranquilo, a ver as pessoas que olhavam para cima do meu corpo...”
“Como vê, a indiferença, também é uma alternativa.”
Fiquei siderado e juntei, para mim, mais esta variação: a indiferença não promove a sobrevivência.
Como viverão estas pessoas?
Uns são mais agressivo, outros são mais combativos, outros são cobardes e fogem e por aí fora. A maior evidência disso é que nunca morremos, nos nossos próprios sonhos: acordamos antes, para sobreviver.
Passadas algumas aulas, ele veio ter comigo e disse-me: “Professor, há mais um tipo de abordagem à sobrevivência.” – “E qual é?” perguntei.
“A indiferença.
Algumas pessoas, poucas, não querem saber de contornar a morte. Não encontrando razões ou amarras sólidas para ficarem no mundo, aguardam serenamente que um qualquer acaso as leve. E não são suicidas, porque não procuram o fim. Apenas não o evitam.”
- “Onde foste buscar essa ideia?”
“A noite passada – respondeu-me ele - morri no meu sonho. Morri com dor. Mas, depois de morto, fiquei tranquilo, a ver as pessoas que olhavam para cima do meu corpo...”
“Como vê, a indiferença, também é uma alternativa.”
Fiquei siderado e juntei, para mim, mais esta variação: a indiferença não promove a sobrevivência.
Como viverão estas pessoas?
segunda-feira, outubro 17, 2005
reach out - ask or give?
I feel a post comming. Vou pari-lo. Até já.
Não, não é mais um anúncio idiota da nova TMN, aliás tmn -em minúsculas, para ficarem mais trendy e próximo do povo- era o que eu dizia, campanha idiota. Foi apenas a forma como me despedi, antes de vir escrever.
Aparte o intróito, a verdade é que o alinhamento astral me faz voltar às letras e ao discurso sinistro, como lhe chama a minha amiga. Humm,... uma, não. Várias. Ok,... praticamente todas as pessoas que lêem o que escrevo.
A chegada da chuva serviu de enquadramento à disposição do costume. A música e a vida trataram do resto – os acordes entraram como uma empresa de catering profissional que distribui canapés pelas disposições, temores e desalegrias, enquanto os dias recitavam a poesia triste do mundo dos poetas andaluzes bucólicos.
Um sonho digno de Luis Buñuel, em cenários de Dali.
Os actores seriam pessoas normais, medíocres, claro, mas felizes, na ordinarice dos dias correntes.
Por tristeza e por dias ordinários e extraordinários, lembro-me que alguém me perguntou se a minha boa disposição não seria um exercício falso. Se não seria um disfarce ridículo face à disposição que parecem traduzir as letras que escrevo...
Intrigou-me, a pergunta. Achei mesmo uma pergunta brilhante. A surpresa de alguém querer tentar saber os porquês e os quês das coisas, é sempre um achado. O desassossego e a inquietude não se curam só com uma ida à casa de banho ou com um pirafo bem dado. A alma tem que ser alimentada, senão definha e morremos estúpidos... como escrevi em tempos...
Mas, voltando à pergunta que me fizeram. A resposta ultrapassou o momento de admiração e saiu disparada pela pista da razão.
Em boa verdade, o estado de tristeza é um estado presente. É como uma malha, matriz de fundo, que entreteceu o tempo à volta do espaço disponível e criou a plataforma de sustentação de mim. É verdade. Em fundo, em verdade, sinto-me triste.
Não é deprimido, não é doente, não é incompatível com a tranquilidade mas, sinto-me triste e o semblante, quando está só, não tem brilho. Não me retira o pensar, não me diminui a dedução nem o sentir. Especialmente, o sentir.
Em resumo, o meu fundo é de cor triste e aroma sombrio. E pronto.
A pergunta, no entanto, ia mais longe. Queria saber que alegria era esta que aparecia de quando em quando e, se era genuína ou fabricada para a ocasião.
É bem genuína, respondi eu, mas é gerada pela ocasião, pelas pessoas ou pelos estares e sentires. E como funciona uma coisa destas, aparentemente contraditória?
Curiosamente, o processo é simples.
Na base escura, começa a ser tecida uma nova malha, uma nova tela, que não se consegue colar à anterior, nem substituí-la.
Mas cresce, sobreposta, até tapar a influência da cor mais baça que vai ficando enterrada debaixo desta nova construção. À medida que se vai estendendo a influência e o enquadramento, assim vai ganhando altura e estrutura, esta nova Torre de Pisa.
Infelizmente, não consegue retirar da sua natureza, a volatilidade. Não é mais do que uma presença efémera que depende, por vezes, da vontade do construtor, enquanto noutras, reflecte a luminosidade de uma qualquer estrela que passa mais perto.
Assim que é desligado o quadro geral da vontade ou pressão que, de fora, mantém activa a força de querer, todo o planeta regressa à penumbra original. A temperatura dos corpos vai descendo até ao gelo glacial do inverno ártico e a luz abandona à sua sorte, o ecossistema que, sozinho, vai definhando até ao ponto original de que partiu.
Varia, a duração dos efeitos. É invariável, o ponto de chegada.
A vida nasce e morre, de cada vez que nascem e morrem os dias.
Talvez, por isso, goste tanto de estar acordado de noite. Sem ilusões.
domingo, outubro 16, 2005
quinta-feira, outubro 13, 2005
tempo diferente
ébrio
há muito tempo
Um dia, quando era pequeno, fiquei com uma memória gravada com uma violência tão brutal que, ainda hoje sou capaz de relembrar a hora as cores exactas, os objectos e o cheiro que havia na cozinha, nesse dia.
Tinha quatro anos e passava os dias em casa, com a minha avó, que morava connosco, quando os meus pais iam para o trabalho. Já contei que tive duas mães, não foi?
Esta era a minha mãe maior.
Um dos passatempos preferidos da senhora era ensinar-me as poucas poesias que tinha aprendido até à 4ª classe.
A minha avó nasceu mo Alentejo, numa família que trabalhava no campo e, por ser a mais nova de 5 irmãos, calhou-lhe em sorte ser mandada para a escola; coisa que aliás, nunca corria bem. Ela contava com um sorriso que ainda hoje me arrepia a memória, de tão doce e sereno, que a mãe dela tinha que a ir buscar à cama, à força, para a levar para a escola. Todos os dias a minha avó inventava uma nova dor e uma nova doença para não ir para a escola. Preferia poder ir para o campo com as irmãs e irmão, onde brincava, mais do que trabalhava, porque os mais velhos tinham um carinho especial pela pequenina e não a deixavam estragar as mãos que seriam para escrever.
Então a minha bisavó, agarrava-lhe na orelha e metia-a na carroça do bisavô para a levar para a aldeia, para a escola.
A pobrezita ia todo o caminho a chorar durante os primeiros meses de cada ano escolar, pela separação que lhe impunham. Mas tinha sido decidido em concílio familiar, que alguém havia de aprender a ler e a escrever para poder ajudar a família a enfrentar a burocracias e processos da vida corrente. A pequena Custódia saiu em rifa mas, naquela idade, não lhe parecia uma solução nada católica.
O certo é que fez até à 4ª classe e, depois, lá conseguiu ir trabalhar com os irmãos para o campo.
Ficou-lhe o gosto pelas letras, sentiu a facilidade de movimento que lhe dava o saber ler e escrever e tratou de mandar, mais tarde, os seus próprios filhos para a escola, assim que pôde. Incentivava-os acarinhava a leitura e a escrita e, quando o professor primário do filho dela lhe disse: o Manuel (meu tio e padrinho) devia continuar a estudar, uma criança, com a vontade e predisposição que ele tem, devia ir mais longe.
Deixa-me relembrar o enquadramento: estamos numa aldeia rural enfiada no meio do Alentejo, numa família de trabalhadores do campo, em meados dos anos 60.
A resposta da boa da Custódia, ao mestre escola da aldeia foi só: E para onde poderemos mandar o Manuel? Quem o poderá aceitar?
E nem quando o professor lhe disse que a solução “menos cara” seria enviar o rapaz para Évora, para o seminário, se lhe quebrou a resolução. A minha avó começou a tratar de reunir as poupanças e, enquanto engolia as lágrimas, preparava o envio do menino de 10 anos para longe.
Que mulher. Que raça. Que brio de vida e abnegação. Não tenho a capacidade de análise mais imparcial do mundo, mas não consigo evitar a admiração escancarada pela dimensão desta senhora.
Por essa altura, abençoou as sovas que tinha levado da mãe para ir para escola, e agradecia-lhe, de todas as vezes que escrevia ao Manuel e de todas as vezes que recebia cartas do filho que via apenas nas férias do verão.
Podia falar mais do que é a memória do tio, mas não tenho letras hoje, para contar essa história. Apenas que morreu, com o pai, num acidente de automóvel, três meses depois eu ter nascido. A transferência foi óbvia e imediata.
Vou voltar ao início, onde comecei.
Como qualquer criança, cada vez que ficava mais de uma semana no Alentejo, adoptava o dialecto local – já na altura, camaleão – e a minha avó dizia-me: Se sabes escrever as palavras da forma certa – ainda não tinha 4 anos, já ela estava a tratar de me ensinar, e eu a aprender – então não as digas da forma errada “Falar com o acento do Alentejo não faz mal, mas tens que dizer as palavras da forma correcta”.
Bom, perdi-me outra vez.
Naquele dia, na cozinha, ela estava a fazer o “estremalho”(crochet) – já não dizia esta palavra há tanto tempo, que não consigo quantificar – sentada num mocho, em frente à janela e eu andava por ali, a trautear as poesias que ela me ia ensinando enquanto fazia correr a agulha pela linha encostada ao dedo.
Nesse dia, estava a aprender uma poesia leve sobre a morte, que ainda hoje não sei de onde terá vindo:
«À morte ninguém escapa
nem o rei nem o bispo nem o papa.
Mas eu, hei-de escapar a ela
Compro uma panela
e meto-me dentro dela.
E a morte chega e diz:
Humm, aqui não há ninguém.
Adeus meus senhores
E passem muito bem. »
A propósito do tema, lembro-me de ela me ter perguntado “O que fazias, filho (era como me tratava), se a avó morresse?” E eu respondi-lhe, pronto e rebiteso: “Não fazia nada, porque tu não vais morrer”
E pronto. Era uma verdade incontornável: a minha avó havia de ficar sempre comigo.
Mas a artista da avó Toda, fez cair a cabeça sobre o peito e ali se deixou ficar inerte... E eu fiquei a olhar para aquilo, sem perceber o que se passava...
Chamei-a. Várias vezes. E ela não respondia. Lembro-me claramente de ter começado a associar aquele mutismo ao estado em que via os corpos nos funerais a que já tinha ido.
Uma de duas. Se não se mexe, está a dormir... ou morta.
Bom, se estiver a dormir, vou acordá-la.
Abanei-a um bocadinho, e nada.
E mais um bocadinho, e nada.
Não podia estar a dormir porque eu, quando dormia e a minha avó chamava por mim de manha e me abanava o ombro, acordava.
Na minha cabeça de criança a conclusão era óbvia: a minha avó morreu. E voltou-me à memória, a pergunta que ela me tinha feito, uns momentos antes. “O que fazias...?” Curiosamente, o meu primeiro pensamento foi: tenho que lhe tirar o estremalho das mãos, não vá ele cair e estragar-se.
Mas, quando avancei para pôr a salvo as linhas entrançadas em nós, ela, receosa do que eu fosse fazer com aquilo, resolveu “acordar” e ficar viva outra vez.
Lembro-me que não chorei nem tive qualquer expressão de alegria ou tristeza, e guardei para mim a angústia que senti pela perda eminente da pessoa mais importante da minha vida.
Tudo isto se passou no espaço de 1 minuto ou 2, mas tomei imediatamente 2 resoluções, talvez as primeiras resoluções ou considerações sérias da minha vida.
Decidi que havia de saber distinguir as pessoas vivas das mortas, o que tratei de resolver ainda nesse dia ao perguntar aos meus pais, que me explicaram a história do ar a sair pela boca ou pelo nariz. Muito bem, esse assunto estava arrumado.
A resolução maior foi passar a velar pela “vida” da minha avó. Se ela podia não ficar comigo para sempre, eu achei que, se me assegurasse que ela ia respirando, então estaria a contribuir para o prolongamento da estadia da avó Toda na minha vida.
Passei a dormir com ela muito mais vezes e, quando ela adormecia, eu ia pondo o dedo debaixo do nariz para garantir que a minha avó ia ficando comigo.
Cresci e esqueci-me das minhas resoluções. Deixei de velar pela vida da minha avó enquanto dormia.
Não consegui ser o guardião que te prometi em silêncio, quando tinha 4 anos, avó.
E deixei-te morrer.
Tinha quatro anos e passava os dias em casa, com a minha avó, que morava connosco, quando os meus pais iam para o trabalho. Já contei que tive duas mães, não foi?
Esta era a minha mãe maior.
Um dos passatempos preferidos da senhora era ensinar-me as poucas poesias que tinha aprendido até à 4ª classe.
A minha avó nasceu mo Alentejo, numa família que trabalhava no campo e, por ser a mais nova de 5 irmãos, calhou-lhe em sorte ser mandada para a escola; coisa que aliás, nunca corria bem. Ela contava com um sorriso que ainda hoje me arrepia a memória, de tão doce e sereno, que a mãe dela tinha que a ir buscar à cama, à força, para a levar para a escola. Todos os dias a minha avó inventava uma nova dor e uma nova doença para não ir para a escola. Preferia poder ir para o campo com as irmãs e irmão, onde brincava, mais do que trabalhava, porque os mais velhos tinham um carinho especial pela pequenina e não a deixavam estragar as mãos que seriam para escrever.
Então a minha bisavó, agarrava-lhe na orelha e metia-a na carroça do bisavô para a levar para a aldeia, para a escola.
A pobrezita ia todo o caminho a chorar durante os primeiros meses de cada ano escolar, pela separação que lhe impunham. Mas tinha sido decidido em concílio familiar, que alguém havia de aprender a ler e a escrever para poder ajudar a família a enfrentar a burocracias e processos da vida corrente. A pequena Custódia saiu em rifa mas, naquela idade, não lhe parecia uma solução nada católica.
O certo é que fez até à 4ª classe e, depois, lá conseguiu ir trabalhar com os irmãos para o campo.
Ficou-lhe o gosto pelas letras, sentiu a facilidade de movimento que lhe dava o saber ler e escrever e tratou de mandar, mais tarde, os seus próprios filhos para a escola, assim que pôde. Incentivava-os acarinhava a leitura e a escrita e, quando o professor primário do filho dela lhe disse: o Manuel (meu tio e padrinho) devia continuar a estudar, uma criança, com a vontade e predisposição que ele tem, devia ir mais longe.
Deixa-me relembrar o enquadramento: estamos numa aldeia rural enfiada no meio do Alentejo, numa família de trabalhadores do campo, em meados dos anos 60.
A resposta da boa da Custódia, ao mestre escola da aldeia foi só: E para onde poderemos mandar o Manuel? Quem o poderá aceitar?
E nem quando o professor lhe disse que a solução “menos cara” seria enviar o rapaz para Évora, para o seminário, se lhe quebrou a resolução. A minha avó começou a tratar de reunir as poupanças e, enquanto engolia as lágrimas, preparava o envio do menino de 10 anos para longe.
Que mulher. Que raça. Que brio de vida e abnegação. Não tenho a capacidade de análise mais imparcial do mundo, mas não consigo evitar a admiração escancarada pela dimensão desta senhora.
Por essa altura, abençoou as sovas que tinha levado da mãe para ir para escola, e agradecia-lhe, de todas as vezes que escrevia ao Manuel e de todas as vezes que recebia cartas do filho que via apenas nas férias do verão.
Podia falar mais do que é a memória do tio, mas não tenho letras hoje, para contar essa história. Apenas que morreu, com o pai, num acidente de automóvel, três meses depois eu ter nascido. A transferência foi óbvia e imediata.
Vou voltar ao início, onde comecei.
Como qualquer criança, cada vez que ficava mais de uma semana no Alentejo, adoptava o dialecto local – já na altura, camaleão – e a minha avó dizia-me: Se sabes escrever as palavras da forma certa – ainda não tinha 4 anos, já ela estava a tratar de me ensinar, e eu a aprender – então não as digas da forma errada “Falar com o acento do Alentejo não faz mal, mas tens que dizer as palavras da forma correcta”.
Bom, perdi-me outra vez.
Naquele dia, na cozinha, ela estava a fazer o “estremalho”(crochet) – já não dizia esta palavra há tanto tempo, que não consigo quantificar – sentada num mocho, em frente à janela e eu andava por ali, a trautear as poesias que ela me ia ensinando enquanto fazia correr a agulha pela linha encostada ao dedo.
Nesse dia, estava a aprender uma poesia leve sobre a morte, que ainda hoje não sei de onde terá vindo:
«À morte ninguém escapa
nem o rei nem o bispo nem o papa.
Mas eu, hei-de escapar a ela
Compro uma panela
e meto-me dentro dela.
E a morte chega e diz:
Humm, aqui não há ninguém.
Adeus meus senhores
E passem muito bem. »
A propósito do tema, lembro-me de ela me ter perguntado “O que fazias, filho (era como me tratava), se a avó morresse?” E eu respondi-lhe, pronto e rebiteso: “Não fazia nada, porque tu não vais morrer”
E pronto. Era uma verdade incontornável: a minha avó havia de ficar sempre comigo.
Mas a artista da avó Toda, fez cair a cabeça sobre o peito e ali se deixou ficar inerte... E eu fiquei a olhar para aquilo, sem perceber o que se passava...
Chamei-a. Várias vezes. E ela não respondia. Lembro-me claramente de ter começado a associar aquele mutismo ao estado em que via os corpos nos funerais a que já tinha ido.
Uma de duas. Se não se mexe, está a dormir... ou morta.
Bom, se estiver a dormir, vou acordá-la.
Abanei-a um bocadinho, e nada.
E mais um bocadinho, e nada.
Não podia estar a dormir porque eu, quando dormia e a minha avó chamava por mim de manha e me abanava o ombro, acordava.
Na minha cabeça de criança a conclusão era óbvia: a minha avó morreu. E voltou-me à memória, a pergunta que ela me tinha feito, uns momentos antes. “O que fazias...?” Curiosamente, o meu primeiro pensamento foi: tenho que lhe tirar o estremalho das mãos, não vá ele cair e estragar-se.
Mas, quando avancei para pôr a salvo as linhas entrançadas em nós, ela, receosa do que eu fosse fazer com aquilo, resolveu “acordar” e ficar viva outra vez.
Lembro-me que não chorei nem tive qualquer expressão de alegria ou tristeza, e guardei para mim a angústia que senti pela perda eminente da pessoa mais importante da minha vida.
Tudo isto se passou no espaço de 1 minuto ou 2, mas tomei imediatamente 2 resoluções, talvez as primeiras resoluções ou considerações sérias da minha vida.
Decidi que havia de saber distinguir as pessoas vivas das mortas, o que tratei de resolver ainda nesse dia ao perguntar aos meus pais, que me explicaram a história do ar a sair pela boca ou pelo nariz. Muito bem, esse assunto estava arrumado.
A resolução maior foi passar a velar pela “vida” da minha avó. Se ela podia não ficar comigo para sempre, eu achei que, se me assegurasse que ela ia respirando, então estaria a contribuir para o prolongamento da estadia da avó Toda na minha vida.
Passei a dormir com ela muito mais vezes e, quando ela adormecia, eu ia pondo o dedo debaixo do nariz para garantir que a minha avó ia ficando comigo.
Cresci e esqueci-me das minhas resoluções. Deixei de velar pela vida da minha avó enquanto dormia.
Não consegui ser o guardião que te prometi em silêncio, quando tinha 4 anos, avó.
E deixei-te morrer.
domingo, outubro 09, 2005
outro pensamento, da mesma época
e, aliás, no mesmo dia. Mais tarde...
The thicker the barrier to the brain, the less I’ll be able to think. Thank God for all the tranquilizing substances. Je n’attend que la nuit pour l’absence de la lumiére. Merci pour le noir. Je la souaette. Havia tanto para dizer e escrever assim os meus dedos estivessem a responder aos comandos.
Boas notícias! Aqui há Stolichnaya! Uha.
Saem dos buracos todos os seres que, de dia escondem algumas das ansiedades que lhes afligem a alma e impedem as cascas de cair.
Agora é a hora da mudança das crisálidas e que borboletas tão diferentes nos oferece a escuridão. Quão fatal é a seiva que escorre dos corpos a esta hora, neste dia. A languidez, o aroma, o desprendimento, a semi loucura que é libertada pelo anonimato da hora.
Agora ninguém é ninguém.
Toda a gente é um mundo vivo de cores, sons e aromas. Que libertação sente o espírito quando a alma dá folga às rédeas do decoro, sentido esteta e pudor de imagem ou de acções.
Gosto. Gosto sobretudo do entorpecimento da clara fragilidade do deslizar, aparentemente fácil, dos corpos já fragilizados. Mas ninguém os avisou e assim rebentam os últimos freios que os retêm na sanidade. E que bom é ver o descontrolo assumido, como parte indispensável do escape das nomenclaturas. Que delicia é o alheamento…
The thicker the barrier to the brain, the less I’ll be able to think. Thank God for all the tranquilizing substances. Je n’attend que la nuit pour l’absence de la lumiére. Merci pour le noir. Je la souaette. Havia tanto para dizer e escrever assim os meus dedos estivessem a responder aos comandos.
Boas notícias! Aqui há Stolichnaya! Uha.
Saem dos buracos todos os seres que, de dia escondem algumas das ansiedades que lhes afligem a alma e impedem as cascas de cair.
Agora é a hora da mudança das crisálidas e que borboletas tão diferentes nos oferece a escuridão. Quão fatal é a seiva que escorre dos corpos a esta hora, neste dia. A languidez, o aroma, o desprendimento, a semi loucura que é libertada pelo anonimato da hora.
Agora ninguém é ninguém.
Toda a gente é um mundo vivo de cores, sons e aromas. Que libertação sente o espírito quando a alma dá folga às rédeas do decoro, sentido esteta e pudor de imagem ou de acções.
Gosto. Gosto sobretudo do entorpecimento da clara fragilidade do deslizar, aparentemente fácil, dos corpos já fragilizados. Mas ninguém os avisou e assim rebentam os últimos freios que os retêm na sanidade. E que bom é ver o descontrolo assumido, como parte indispensável do escape das nomenclaturas. Que delicia é o alheamento…
há muito tempo
mais precisamente, ainda no ano passado, escrevi algumas coisas.
Alguém me relembrou e aqui ficam alguns pensamentos desgarrados...
"Largar aos pulmões o trabalho do coração significa dar ao que sai da boca a importância do que devia sair da alma. Só as pontas das estrelas sabem o que picam se estiverem muito próximo das pessoas; só ai se sente o ardor das farpas que tão bem conseguiu a terra esconder debaixo dos oceanos…Que ironia, só depois de secos se lhes vê o fundo. E que triste espectáculo é."
Tenebroso, não é? Art (whatever that might be...) craves on pain.
Alguém me relembrou e aqui ficam alguns pensamentos desgarrados...
"Largar aos pulmões o trabalho do coração significa dar ao que sai da boca a importância do que devia sair da alma. Só as pontas das estrelas sabem o que picam se estiverem muito próximo das pessoas; só ai se sente o ardor das farpas que tão bem conseguiu a terra esconder debaixo dos oceanos…Que ironia, só depois de secos se lhes vê o fundo. E que triste espectáculo é."
Tenebroso, não é? Art (whatever that might be...) craves on pain.
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